Podcast #019 – Dr. José Neto E A Medicina Baseada Em Evidências

Neste primeiro episódio do nosso podcast 2018, vamos conversar com o excelente Doutor José Neto.

Conhecemos o Dr. José Neto no evento Tribo Forte Ao Vivo em São Paulo, no final de outubro de 2017.

A partir daí, uma amizade surgiu – e agora tivemos a oportunidade de falar com ele aqui sobre muitos assuntos.

Ouvindo o podcast até o final, você vai aprender sobre:

  • medicina baseada em evidência;
  • diferença entre ensaio clínico randomizado e estudo observacional;
  • diferença entre risco relativo e risco absoluto;
  • o que é desfecho clínico e o que é desfecho substituto;
  • e muito mais!

Você pode acompanhar um pouco da vida e do trabalho do Dr. José Neto em seu instagram @drjoseneto

Além disso, Neto também escreve em seu blog que você pode ler clicando aqui.

Ouça o podcast clicando no player abaixo:

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É uma maneira muito fácil de transformar sua ida ao trabalho (ou mesmo academia) em um momento de aprendizado e lazer.

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Transcrição Completa Do Podcast

Guilherme: Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. Eu sou o Guilherme.

Roney: E eu sou o Roney. E aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo.

Guilherme: Olá, Tanquinho; olá, Tanquinha.

Bem-vindos a mais um episódio de podcast e hoje nós contamos com a presença do Dr. José Neto.

Fala, Neto, tudo bem?

Dr. José Neto: Beleza, gente?

Guilherme, Roney, prazer estar aí com vocês.

Roney: O prazer é nosso!

Bom, para quem não conhece o Dr. José Neto, ele é um mineiro, que é médico especialista em nefrologia e nós conhecemos o seu trabalho principalmente por causa das mídias sociais e mais recentemente nós assistimos uma palestra dele no evento Tribo Forte Ao Vivo. Uma palestra que a gente gostou muito e foi de lá que surgiu a oportunidade de convidá-lo aqui para o nosso podcast.

Então, Doutor, pode contar um pouco para a gente sobre a sua trajetória, como você começou com a Dieta Paleo… Como foi essa mudança?

Dr. José Neto: Então vamos lá… Na realidade eu sou, como vocês disseram, um mineiro, eu fiz minha formação médica aqui na UFMG, na Universidade Federal, acabei fazendo depois minhas duas residências – tanto Clínica Médica, quanto Nefrologia – no Hospital Felício Rocho. Hospital Felício Rocho que, para contextualizar, é o maior hospital público/privado aqui da cidade e lá mesmo eu acabei sendo agregado ao corpo clínico e eu recebi um convite, logo depois que eu terminei a minha residência, para virar Coordenador do serviço.

Virei Coordenador do serviço de Nefro, mas hora nenhuma eu deixei de fazer clínica médica. Sempre foi uma grande paixão, eu sempre enxerguei a Nefrologia como uma complementação do meu trabalho e eu acho que não tem como você olhar, independente da sua especialidade, só para a especialidade em si; ou seja, não dá para ficar olhando só para um par de rins que estão em uma pessoa.

Então, dentro desse paradigma, eu sempre pensei em alimentação. Eu acho que alimentação é uma base para todos nós. Só que a três anos e meio a trás, para mim e para meus pacientes, eu gritava aquilo que sempre foi o senso comum: coma de três em três horas, coma pouca gordura, com integrais e efetivamente isso não estava dando certo e foi quando eu tive que mudar.

Guilherme: Certo…

Dr. José Neto: Bom, e como é que ocorreu essa mudança? Eu estava num evento em São Paulo… Nesse momento, para vocês terem uma ideia, eu já estava pré-diabético. Na realidade eu fazia uso de Metformina, uma medicação que serve para controlar a glicose, já em dose máxima.

Eu acho que se eu não tivesse com a medicação eu já estaria com o critério de Diabetes e eu fui para São Paulo para um evento de Nefro e estava com um amigo lá e fui tomar café da manhã: pãozinho integral, suquinho de laranja, frutinha, achando que eu estava abafando e chega um cara do meu lado – manteiga para caramba, bacon, presunto de parma, queijo, queijo gordo – e eu falei: “Cara, você vai morrer, velho! Que isso?”. E [ele falou] “de 26 quilos, estava hipertenso, controlei minha pressão, estou me sentindo super bem” e, cara, como assim?

E foi aí que ele me apresentou a Low-Carb, alguma coisa da Paleo… Aí eu falei: “Tá, mas onde que eu leio isso?”, aí ele me direcionou para o blog do Souto e lá no blog do Souto eu comecei a minha pesquisa e hoje estamos aí, atingindo milhões e milhões de pessoas, seja em palestras presenciais, seja por meio da internet e agora aí nesse bate-papo com vocês.

Guilherme: Bem bacana, Doutor, acho que esse negócio de você começar a descobrir, ficar com a pulga atrás da orelha, de querer saber “aonde eu aprendo mais”, depois o blog do Souto, é uma trajetória que aconteceu com muitos de nós e muitos dos convidados aqui do podcast também.

Outra coisa também que a gente achou bem bacana é essa sua abordagem, digamos mais da pessoa: “Não é apenas um par de rins” e, na nossa opinião, como paciente, isso faz toda a diferença. Nós realmente percebemos isso quando somos atendidos por um médico que tem esse tipo de posicionamento.

Dr. José Neto: E é engraçado, porque assim, quando eu me deparei com o blog do Souto – e eu tenho uma pegada, vocês viram lá na palestra da Tribo Forte, muito forte, uma relação muito forte com Medicina baseada em evidências – na realidade, eu acho que é até um termo maior “Saúde baseada em Evidências” e quando eu tive contato com o blog do Souto… Poxa, era um blog de um Urologista, ou seja, para quem não está muito habituado, o Nefrologista, que é a minha subespecialidade, é aquele clínico que se especializa na parte renal.

Então eu mexo ali com o paciente hipertenso, dialítico, que vai para um transplante, infecção urinária e tudo mais, cálculo renal… o Souto é Urologista. Ele é um cirurgião. Definitivamente a gente não espera que um cirurgião vá te ensinar nada a respeito de dieta. Só que a coisa fazia muito sentido, mas eu brinco com o Souto, que hoje virou um grande amigo, falei: “Bicho, eu li seu blog, fazia sentido, tinha referência, mas eu não podia acreditar tão passivamente assim, mudar tudo o que eu acreditava, só porque um Urologista estava falando…”. [risos]

Fui para a literatura e fiz uma revisão extensa do assunto 95% do que eu encontrei estava lá no blog então, definitivamente, é uma grande ferramenta para quem está começando.

Guilherme: E você mencionou – com certeza uma grande ferramenta e é um grande recurso tanto para quem está começando, quanto para quem às vezes tem uma dúvida mais específica, mais, digamos, científica, a respeito às vezes de mecanismo ou, no mínimo, um pouco de lógica, uma aula de hierarquia das evidências – e, falando em evidências, você tocou no tópico de Medicina baseada em Evidências ou Saúde baseada em Evidências… Fala um pouco para a gente sobre isso, que a gente sabe que é uma grande paixão sua.

Dr. José Neto: É. Na realidade quando eu comento a respeito do tema, muita gente me pergunta: “Poxa, mas toda a Medicina deveria ser baseada em evidências, não?” e a resposta é: “Sim!” só que infelizmente não acontece. Existe, isso não é exclusivo da Medicina, uma tara quase Freudiana, pelos mecanismos e a gente sempre tenta explicar primeiro o porquê que a coisa está acontecendo e deixa de encarar a realidade.

Então ao invés de eu olhar e saber: “Não, o sujeito emagreceu – fato. Ele está se sentindo bem – fato. Ele controlou o Diabetes – fato.”, vai atrás do mecanismo depois. Na realidade o que acontece normalmente é que as pessoas têm uma tara tão grande por esse mecanismo e acreditam naquilo como se fosse algo religioso quase que, em última análise, eles começam a negar a realidade.

O Souto tem uma frase bem legal que diz que “a realidade tem primazia sobre os mecanismos”. O que a Medicina baseada em Evidências busca, o que a Saúde baseada em evidências busca é fazer um elo de ligação entre Ciência – desde o cara que está lá na bancada fazendo pesquisas clínicas, como o sujeito que, como eu, sou um usuário da Saúde baseada em Evidências, está atendendo um paciente.

Então são duas coisas que não deveriam ter sido separadas nunca, mas infelizmente parece que havia um cisalhamento em algum momento da história onde Ciência e Prática foram separadas. O que a Medicina baseada em Evidências busca é unir isso aí para, em última análise, a gente ter o melhor para aquilo que realmente importa, no caso igual vocês falaram: nós, pacientes.

Guilherme: Na minha opinião é muito óbvia essa questão do mecanismo, essa tara intelectual do mecanismo, comparado com uma visão que seria, digamos, mais crua – até uma fenomenologia separada do mecanismo – porque as teorias mudaram, às vezes elas vão se atualizando, mas as coisas acontecem: “Ah, eu vou levantar peso e vou ganhar músculos”.

Antigamente se pensava: “São lesões no músculo e depois ele recompõe e fica maior”, agora a gente já fala: “Aumento da sensibilidade à insulina e aí ele consegue ganhar nutrientes…”. A teoria mudou, mas continua sendo a mesma realidade: eu preciso puxar peso para ganhar massa.

Dr. José Neto: Fato. É isso aí. Exatamente. A pessoa fica naquela assim: “Não, eu levantei peso e cresci”, tá mas se eu cresci porque aconteceu um fenômeno X, Y, Z, tá isso pode até te ajudar, em última análise, se você conseguir descobrir o fenômeno, a otimizar o resultado, mas jamais negar a realidade, que é o que acontece.

Eu gosto muito… a Medicina baseada em Evidências nasceu no Canadá, na Universidade de McMaster, com um sujeito chamado… Na verdade quem cunhou o terma o tema foi Gordon Guyatt, mas quem é considerado o avô da Medicina baseada em Evidências, que foi o preceptor do Guyatt, é o Dave Sackett.

O Sackett tem um artigo que ele coloca o que seria a Medicina baseada em evidências.

Porque quando eu comecei a mexer com isso, isso tem mais de dez anos, muita gente fala: “Ah, você aprendeu isso na faculdade”, não, eu aprendi isso na raça, aprendi isso sozinho, por incrível que pareça o mesmo cara que me apresentou a Low-Carb, Dr. Fernando Lucas, um Nefrologista aqui de Minas, foi ele que também me apresentou a Medicina baseada em Evidências. Eu vi que aquilo ali tinha algum sentido e comecei a estudar.

O Dave Sackett coloca que Medicina baseada em Evidências é a interseção de três coisas: Ciência de alta qualidade – e isso não significa ler em quantidade, é ler com qualidade. É saber separar o joio do trigo. É saber efetivamente o que é uma boa pesquisa de uma pesquisa que não serve literalmente para nada. Eu chego a te dizer que mais 90% do que é publicado é lixo científico. Não serve para quase nada.

A outra esfera é a Experiência do Médico ou do profissional da Saúde. Muitas vezes quem que criticar a Saúde baseada em Evidências sem conhecimento, fala: “Ah, isso é só estatística, isso não valoriza o paciente, tira a credibilidade, a experiência do médico”. De maneira nenhuma. É um dos pilares. O Neto de 10 anos atrás era muito pior que o Neto hoje (porque ele foi aprendendo). Não tenho a menor dúvida disso.

E o outro, que a gente esquece, são os valores e preferências do paciente. Então o que eu tenho que falar: Guilherme, Roney, eu tenho essa possibilidade para te apresentar. Você quer emagrecer? Tem a dieta tradicional, que é assim, assim, assado, você vai passar fome e se você tiver essa disciplina você pode conseguir emagrecer, mas os resultados normalmente não se mantém. Você tem a dieta Low-Carb que tem essa e essa restrição, mas a tendência é que você não passe fome e consiga manter ela por um tempo maior. Em último caso você tem a cirurgia bariátrica que tem os prós e os contras, isso e aquilo.

É deixar claro para a pessoa tudo o que existe e junto com ela tentar, na individualidade, chegar àquilo que é melhor, não para mim, para o Neto, mas para você, paciente.

Guilherme: Muito bom. Acho que esses três pilares fez total sentido. Deve ser uma coisa realmente revolucionária quando você se familiariza com esses princípios depois de ter feito a faculdade e na prática, no dia-a-dia clínico.

Dr. José Neto: A gente vê conceitos muito básicos, por exemplo, uma coisa que vocês estão carecas de saber, eu tenho certeza: quem é fã do Souto sabe já há muito tempo o que é um ensaio clínico randomizado e o que é um estudo observacional. Isso é uma coisa básica que vocês hoje olham, eu tenho certeza, e falam assim: “Pô, mas isso é muito básico!”, mas eu chego a te dizer, eu estou especulando, mas com certeza mais da metade dos profissionais da saúde formados, não sabem essa diferença. Pelo menos não sabem do ponto de vista prático. Podem já ter escutado falar, mas não conseguem diferenciar.

As pessoas não sabem a diferença entre risco relativo e risco absoluto, que isso faz toda a diferença, que o propagandista do laboratório, quando chega para o médico falando que o remédio X, Y, Z reduz o risco de infarto em 80%, que aquilo é risco relativo. Se aquilo ali for de uma coisa muito pequena, reduzir 80% de 0,5% é nada! Então o que importa é o risco absoluto!

E volto a dizer: não estou falando da população leiga. Estou falando de profissionais. As pessoas não sabem isso e isso são conceitos básicos, do básico, do básico. Tanto que já está em andamento, eu estou desenvolvendo um curso de Saúde baseada em Evidências online, justamente para conseguir disseminar essas informações.

Nessas palestras que eu tenho feito Brasil afora, eu tenho visto que as pessoas, a hora que são apresentadas aos conceitos, falam: “Gente, isso é importante, isso faz sentido. isso vai me tornar um melhor profissional” e vários chegam e falam: “Neto, onde eu encontro isso?” e aí eu penso: poxa, eu não tenho um livro, eu não tenho um local específico… é uma coisa que eu vim “pega um pouquinho ali, pega um pouquinho aqui” e a hora que eu vi, eu falei: “Bicho, eu tenho uma informação, um conhecimento já, que eu vou conseguir ajudar outras pessoas e, em última análise, ajudar o paciente delas, sabe?”.

Eu tenho a sensação que eu tenho o poder de ajudar que transcende aquilo que eu consigo fazer individualmente, que é tratar muito bem meu paciente, mas que eu tenho meu limite, ? Eu vou ver quatro, cinco, seis pacientes por dia, não mais do que isso.

Roney: Neto, um outro conceito bem legal que nós gostamos de ter visto na sua palestra aquele dia foi a respeito de desfecho clínico e desfecho substituto. Poderia falar um pouco disso para o pessoal que está ouvindo a gente?

Dr. José Neto: Talvez, junto com esses dois que eu falei, que a diferença de ensaio clínico e estudo observacional e conhecer bem o que é risco relativo e risco absoluto, talvez seja o terceiro grande pilar que eu considero fundamentais de conhecimento básico.

O que é desfecho clínico? Vou usar exatamente como eu falei na palestra e como eu explico para os meus residentes: é aquilo que importa para o paciente. O que é desfecho substituto? É uma variável, normalmente fisiopatológica, que tenta inferir um desfecho clínico. Vamos exemplificar: infartar é um desfecho clínico, ter um derrame é um desfecho clínico. O colesterol estar alterado é um desfecho substituto.

Então por mais que eu consiga predizer alguma coisa através de colesterol, através de glicose, através de creatinina, isso nunca vai ser a mesma coisa que desfecho clínico. Não interessa para o paciente se a glicose dele está alta ou baixa. Interessa se ele está tendo indo para a diálise ou não, se ele está tendo que operar do coração ou não, se ele teve que fazer uma amputação ou não e a tendência é, cada vez mais, uma idolatria do desfecho substituto e isso tem uma explicação.

O desfecho substituto você consegue os resultados muito mais rápido, então você roda a roda bem mais rápido do que esperar 20 anos para ver quem morreu e quem não morreu e infelizmente quem paga hoje a maior parte dos estudos é a indústria farmacêutica. Então no meu modo de ver, o governo tem que investir em pesquisa, mas ele tem que saber investir em que tipo de pesquisa.

Não adianta ficar… eu respeito demais a pesquisa básica, mas a pesquisa básica é só uma geradora de hipótese. Se é para colocar dinheiro, coloque em alguma coisa que vai fazer com que a gente mude ou ratifique alguma coisa que a gente faz atualmente.

Guilherme: Perfeito.

Uma pergunta que eu tenho à respeito dessa categorização, você mencionou o desfecho clínico como o que importa para o paciente, então em alguns casos uma certa medição pode ser clínica ou substituta dependendo do que você estiver observando.

E para dar um exemplo do que eu quero dizer, é assim: se o paciente fala “Doutor, eu quero emagrecer”, então a medição da circunferência abdominal é um desfecho clínico. Você está observando que as roupas estão mais folgadas, etc., é um desfecho clínico, mas se a pessoa fala: “Doutor, eu quero reduzir a minha chance de infarto”, então a circunferência abdominal poderia ser considerada um tipo de desfecho substituto nesse contexto?

Dr. José Neto: Na realidade é o seguinte: cintura abdominal, querendo ou não, vai ser um desfecho substituto, o que, em última análise, você pode reduzir cintura abdominal, seja através de Low-Carb, seja através de medicações que vão detonar aquela pessoa.

Então em última análise tem que ser uma coisa que a gente realmente consiga, é algo que vai existir… eu entendi a sua pergunta, vai existir talvez em alguns momentos uma certa interseção entre o desfecho clínico e o desfecho substituto, mas assim, sendo bem pragmático, desfecho clínico é efetivamente algo que… vou te dar um exemplo: hospitalizou. Estar hospitalizado é um desfecho clínico.

Alguma coisa do ponto de vista de dor. Uma escala para dor. Tal remédio fez o paciente ter menos dor. Porque a hora que você usa a cintura abdominal, eu acho que ela fica numa área meio nebulosa. É difícil a gente considerar um desfecho clínico. Eu até considero peso mais fácil, talvez, de a gente enxergar porque junto com o peso vem o bem-estar… é engraçado… por mais que a cintura abdominal seja melhor marcador do que o peso, isso é fato, a tara das pessoas é com a balança. Então ela olhar a balança e falar: “Não, eu emagreci, estou feliz!” e aí acaba virando um desfecho clínico por causa disso.

Guilherme: Entendi, entendi.

Legal, acho que explicou bem. Explicou melhor que a minha pergunta conseguiu perguntar.

Risos.

Essa é a intenção!

Dr. José Neto: Que bom!

Roney: Ainda na questão dos pacientes, uma coisa que a gente sempre gosta de perguntar, é à respeito de qual a maior dúvida que você recebe dos pacientes, porque talvez algumas vezes eles cheguem sem saber das informações de Low-Carb e Paleo ou mesmo alguns que já se informaram via internet, já acompanham o seu trabalho… qual você recebe e percebe que é a maior dúvida ou dificuldade das pessoas ao iniciar esse novo estilo de vida?

Dr. José Neto: Eu acho que são várias, talvez por uma questão de viés de especialidade: “Isso não vai acabar com meu rim?” é uma pergunta bem frequente e, por incrível que pareça, criou-se um fantasma tão grande com o colesterol que, na realidade, “E o meu colesterol?” e aí esse é o gancho que eu já começo a explicar: “Olha, colesterol é um desfecho substituto. Não interessa se o seu colesterol está em 200, 300, 400 ou 1000. Interessa se você vai infartar ou não. Interessa se você vai ter um AVC ou não”.

Então talvez sejam as duas perguntas mais frequentes que eu tenho e talvez uma terceira seja a famosa: “Não, mas eu vou viver sem o meu pãozinho, cerveja, chocolate…?” e por aí vai e na realidade é engraçado porque hoje eu vou te falar que a gente vai numa balança de 8 ou 80, você sai de uma lipidofobia, às vezes, para uma carbofobia, depois você chega no meio termo e hoje eu gosto muito… vocês entrevistaram a Nanda, eu gosto muito da leitura da Nanda do tipo: “Não adianta você fazer uma coisa para o verão. Você tem que fazer uma coisa para o resto da vida”.

Então eu, a poucos minutos atrás, eu atendi um paciente completamente alucinado com a cerveja, então cheguei para ele e falei assim: “Você consegue trocar a cerveja por outra bebida? Um vinho? Um destilado?”, “Ah, por algum tempo, sim.”, então eu falei: “, então você não consegue se imaginar o resto da vida sem cerveja, ?”, “Não, não consigo”, “Então beleza. Então nós não vamos tirar a cerveja da sua vida, mas a quantidade que você está bebendo é demais! Você tem que dar uma maneirada. Você tem que dar uma maneirada e ao invés de você tomar X, você vai ter que tomar X/2. Ao invés de você tomar três vezes por semana, você vai tomar uma. Uma delas você vai substituir por uma outra bebida, tomar em menor quantidade”.

Então o bom não pode ser inimigo do ótimo e talvez essa seja a grande diferença da individualidade, daquela coisa do consultório, frente a frente. O que é importante para o Guillherme? O que é importante para o Roney? O que é importante para o seu Zé? Cada um tem seus valores e suas preferências e eu tenho que pegar Ciência e transformar essa ciência em algo positivo para o sujeito que está do outro lado da mesa e não fazer uma receita de bolo do tipo: “Corta radicalmente pão. Você nunca mais pode comer pão na vida porque senão você está errado”. A hora que você faz desse jeito para mim vira dogma, vira religião e é fadado a dar errado.

Guilherme: Perfeito! Isso é algo que nós vemos bastante porque muitas vezes as pessoas chegam no nosso site até porque a gente começou incentivando, quando eu mudei de dieta, eu focava muito no dia livre que eu tinha uma vez por semana e depois com o tempo foi melhorando essa relação, fui precisando menos dele, fui ficando um dia mais light. No começo era bem “vou comer porque eu posso!”, até porque anos e anos de proibição, proibição e as pessoas falam: “Ah, mas será que não é melhor eu nunca mais tomar cerveja?”. Eu falo: “Mas melhor para quê?”.

Talvez em termos de saúde seja superior, agora, e no resto? Se você fosse olhar só objetivamente…

Dr. José Neto: E será que é melhor? Porque tem variáveis que são imensuráveis! E o bem-estar de você sentar e falar assim: “Estou com os meus amigos, vou tomar uma cerveja hoje!”, sabe? Existem coisas… o que mata é regra, não é exceção, então eu gosto muito de usar coisas que são, definitivamente, já são vistas como ruins: cigarro, charuto… será que se eu fumar um charuto três vezes por ano vai me matar?

Eu não consigo imaginar que isso vai me fazer tão mal a ponto de chegar para um cara que gosta de fumar um charuto eventualmente e falar: “Não pode não. Está errado!” é a mesma coisa, então hoje eu enxergo isso até com meus filhos. Quando eu comecei a dieta, que eu vi que o negócio tinha sentido, poxa eu comecei a ficar neurótico, de chegar e falar: “Não, eles não podem comer isso, não podem comer aquilo. Eu vou criar eles totalmente diferente.”. Não dá!

(O Hilton Sousa falou um pouco sobre isso na entrevista que gravamos com ele.)

Eles estão num mundo, eu tenho que dar o exemplo, eu tenho que conseguir mostrar para eles que as escolhas vão ser deles e aí você vê o exemplo da cerveja: poxa, você não vai me tomando uma cervejinha mais ou menos. Quando eu for tomar, eu vou tomar uma bela duma cerveja. Aqui em BH tem muita cervejaria artesanal, então eu vou fazer uma coisa diferenciada…

Então quer comer pão? Coma um pão que você gosta! Não vá comer um pão integral sem graça… então eu acho que tudo é questão de escolhas na vida e obviamente, eu às vezes vou ter uma restrição maior que o meu vizinho. Sorry, o mundo não é justo.

Guilherme: Muito bem colocado! E o exemplo do cigarro eu acho que é até mais impactante porque é algo que já está estabelecido “o caixão já está fechado porque faz mal mesmo”. Bacana.

Roney: Bom, eu acho que a gente já falou de bastante coisa, gostei bastante, estamos chegando mais para o final do podcast. Tem alguma outra coisa que você gostaria de ter falado hoje, Neto?

Guilherme: Alguma mensagem final que você gostaria de deixar para os nossos ouvintes?

Roney: Ou a respeito de alguns assuntos abordados… qualquer coisa…

Dr. José Neto: Cara, eu vou te falar o seguinte: Low-Carb mudou minha vida. Mudou minha vida… Low-Carb/Paleo, ? Mudou minha vida individual, mudou a vida da minha família, de uma série de amigos, mudou minha vida profissional, mas hoje eu enxergo na Saúde baseada em Evidência a possibilidade de mudar algo muito maior porque se hoje eu, Souto, Nanda, Rafa e tantos outros palestrantes conseguimos subir num palco e dar uma mensagem com respaldo científico, ali por trás tem toda essa Ciência bem delineada.

E Ciência é isso, ? Ciência é uma verdade dinâmica, então o que eu gostaria de ensinar para as pessoas e não só profissionais, leigos também, a terem uma leitura, de um ceticismo inteligente de que não é porque sempre foi feito assim, que deve continuar a ser feito assim. Então eu melhorei muito.

Uma questão que eu gosto de falar é que minha humildade cresceu. Eu sou hoje muito mais humilde quando alguém, um paciente chega e fala assim: “Doutor, o chá tal me faz um bem danado e tal”. Antes eu poderia falar: “Ih, lá vem mais um.” Hoje eu vou pegar e vou falar: “, está te fazendo bem? Beleza. Eu vou olhar para ver se ele não vai te fazer mal, primeira coisa, e vou ver se tem alguma coisa que possa te fazer bem.”

Ah, não achei nada que possa fazer mal, não achei nada que possa fazer bem, eu vou explicar para a pessoa, de fato, o que existe: “Olha, talvez seja só um chazinho que está te fazendo bem. Ok, continue.”, mas a leitura da prática clínica minha hoje é completamente diferente do que era a quatro anos atrás.

Outro ponto é, especificamente eu tenho recebido muitos pacientes por causa da alimentação, e eu deixo muito claro: “Eu não estou aqui para emagrecer ninguém, minha função não é ser Endócrino, Nutricionista, Nutrólogo. Eu sou um Clínico, na acepção da palavra, e nosso objetivo sempre vai ser saúde. De tabela você vai emagrecer, mas a hora que eu consigo vender essa ideia, eu consigo fazer muito mais para quem está do outro lado, para quem está confiando no meu trabalho.

E para finalizar eu queria parabenizar o trabalho de vocês, na realidade, parabenizar o trabalho de todas as pessoas que, como vocês, tem divulgado essa Ciência de verdade com mote em alimentação para tantas e tantas pessoas porque por mais que eu consiga atingir um número, eu nunca vou conseguir ser tão efetivo se eu não tiver outros braços, então vocês acabam sendo os nossos braços e a gente está num famoso “tamo junto”. O que precisar eu estou aí para ajudar, sintam-se bem-vindos a Minas Gerais quando derem um pulo aqui, avisem, para vocês comerem uma boa comida mineira, no melhor estilo Paleo.

Risos.

Guilherme: Perfeito então!

Nós ficamos muito felizes de sermos elogiados e citados por profissionais que nós admiramos como você e alguns outros que nós já entrevistamos e nós sabemos que impactamos muita gente com o nosso site, então quando você for lançar seu curso também, avise a gente que nós ajudamos a divulgar e você também tem um site, suas mídias sociais. Passa para o pessoal para eles poderem acompanhar o seu trabalho no dia-a-dia também.

Dr. José Neto: Na realidade eu sempre fui um avesso de rede social, site, nunca pensei que eu ia cair nessa e hoje eu consigo enxergar bem que eu enxergava na rede social principalmente com um preconceito, picaretagem e hoje eu consigo enxergar com clareza que eu só consigo vencer essa picaretagem, que existe, mas que existe em todo lugar, se eu mostrar o meu trabalho e a ideia do site foi justamente eu ter um local porque eu comecei a publicar muita coisa no Instagram e a coisa vai se perdendo, então agora eu tenho um local físico onde eu posso deixar, tanto matérias técnicas…

Eu gosto muito de cozinhar, talvez seja um grande hobby meu, então eu gosto de cozinhar alta Gastronomia, então eu ponho receitas que eu faço no meu dia-a-dia mesmo, sempre com uma pegada Paleo ou Low-Carb e, eventualmente, exceções. Então essas exceções fazem parte da minha vida e eu gosto de mostrar para as pessoas que elas são exceções.

Então eu tenho lá o www.drjoseneto.com.br, já está no ar aí tem uns três para quatro meses e tem já algum material ali para dar subsídio para muita gente poder começar a dar os primeiros passos igual nos demos alguns anos atrás, dentro desse métier da Low-Carb e da Paleo.

Guilherme: A gente sempre acompanha o seu site e já mandei para a minha mãe a matéria do vinho foi a primeira que ela leu.

Dr. José Neto: Boa!

Risos.

Muita gente me pergunta porque eu realmente sou um aficionado por vinho, é engraçado porque eu era um tomador de cerveja e quando eu conheci a minha mulher, minha mulher não tomava cerveja e eu nunca tinha tomado vinha na vida, eu tive que aprender por causa dela. Mulher faz umas coisas com a gente que são impressionantes, ?

O problema é que o tiro saiu pela culatra porque eu fiz ela colocar na nossa sala uma adega gigante aqui. Ela teve que se virar com a decoradora para caber isso aqui e passei a cozinhar depois de casado e gosto dessa harmonização e obviamente para eu fazer isso eu tenho que acreditar que isso não está me fazendo mal e à luz da evidência atual, essa matéria que você está falando foi uma que eu fiz mostrando que nós não temos evidência nenhuma de que faça mal e tem evidências que sugerem que possa fazer bem.

Se existe essa associação entre poder fazer bem, olha a Medicina baseada em Evidência entrando aí, definitivamente para ter causa, tem que haver associação. Se a associação negativa não existe, ou só existe em situações muito específicas, o sujeito tem já uma história familiar muito grande de cirrose, perda da função do fígado, para esse cara eu não vou falar para beber.

Mas de maneira geral é uma situação que pode te ajudar e que ajuda, é aquilo que nós conversamos no meio da entrevista, ? Se eu tomo todos os dias com a minha mulher na hora do jantar uma ou duas tacinhas por dia, é aquela hora que a gente senta à mesa, janta, degusta aquele vinho, troca uma ideia… isso é viver! E viver é muito mais do que se colocar numa caixinha de “eu tenho que dormir tantas horas por dia, eu só posso comer isso ou aquilo, se eu não fizer X de atividade física por semana eu vou morrer”. Para! Simplifica o negócio porque a vida é muito mais leve do que as pessoas tendem a fazer ela ser.

Guilherme: Perfeito!

Roney: Fechou bem com uma mensagem bem legal no final.

Guilherme: Então, Doutor, muito obrigado pela sua presença hoje, pelo seu tempo.

Nós vamos publicar esse episódio com todos os links também para o seu site, para as suas mídias sociais e a gente vai se falando, com certeza, tem assunto para uma próxima rodada quando você puder.

Dr. José Neto: Sempre às ordens! Precisando, eu gosto de bater um papo. Mineiro, sentou, se colocar um cafezinho com queijo, então, nós vamos até amanhã!

Risos.

Valeu, gente, obrigado, viu? Precisando, estou à disposição!

Roney: Nós que agradecemos!

E quem acompanhou a gente até agora esperamos nos ver num próximo episódio.

Um forte abraço do Senhor Tanquinho.

Guilherme: Você acabou de ouvir mais um episódio do podcast do Senhor Tanquinho.

Roney: Não deixe de se inscrever para não perder nenhum episódio com os maiores especialistas para a sua saúde.

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