Banho Gelado Emagrece? Como Usar O Frio Para Emagrecer

O clima frio ajuda a queimar mais calorias? E tomar banho gelado, emagrece?”

Quando o assunto é emagrecer, encontramos as mais diversas promessas: de dietas malucas a sucos detox, passando por diversos suplementos.

Tudo com a promessa de acelerar o metabolismo — e ajudar você a emagrecer.

Hoje, vamos ver a verdade sobre o uso do frio e dos banhos gelados para emagrecer.

Ao ler este artigo até o final, você vai saber:

  • Exposição ao frio ajuda a emagrecer?
  • Tomar banho gelado tem benefícios? Se sim, quais?
  • Quantas calorias você queima ao tomar banho gelado e/ou se expor ao frio.

Leia com atenção este texto para descobrir tudo sobre como usar o frio para emagrecer.

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Frio Para Emagrecer: Como Funciona

Quando nosso corpo é exposto ao frio, a reação natural é o aumento da produção de calor, num processo chamado de termogênese.

Termogênese significa, de maneira resumida, que seu corpo vai gastar calorias para produzir calor.

Existem dois tipos de termogênese: com tremores e sem tremores (ou com e sem estremecimento).

Na termogênese com tremores (como o próprio nome indica), seu corpo estremece para produzir calor. 

No estremecimento, os músculos passam por contrações rápidas e repetidas, e esse processo gera calor. [1]

É até um pouco intuitivo quando imaginamos alguém “tremendo de frio”: esse movimento é uma resposta evolutiva para a sobrevivência, e ele gera calor.

Agora, o interessante mesmo é a termogênese sem tremores.

Por meio de mecanismos que acontecem dentro das células (especialmente, nas nossas mitocôndrias), nosso corpo é capaz de queimar calorias para gerar calor.

Afinal de contas, a gordura é uma forma que nosso corpo usa para armazenar energia — e esse mecanismo de queimar gordura para manter nossa temperatura ajuda a nos manter vivos. [2] 

Essa geração de calor também acontece nos nossos músculos, mas não apenas neles — pois ela também ocorre num tipo de tecido muito especial: o tecido adiposo marrom.

Vamos falar um pouquinho sobre ele, e você vai entender por que ele é tão importante.

Frio Para Emagrecer: A Importância Do Tecido Adiposo Marrom

Antes de mais nada, note que a maior parte da nossa gordura é do tipo tecido adiposo branco.

A principal função do tecido adiposo branco é guardar o excesso de gordura na forma de triglicerídeos, e liberá-los como ácidos graxos quando o corpo precisa de energia.

Ou seja: a gordura que armazenamos pode ser vista como um “depósito de energia”, que pode ser usada quando, por exemplo, estamos sem nos alimentarmos.

É o fato de termos esses depósitos que permite que a gente fique sem se alimentar por dias a fio: porque nosso corpo tem energia o suficiente para não termos que comer de 3 em 3 horas

Justamente devido ao tecido adiposo branco.

No entanto, o tecido adiposo marrom é diferente: pois ele é capaz de realizar a termogênese — ou seja, a geração de calor para nosso corpo. [3]

O tecido adiposo marrom é cheio de mitocôndrias (que são as organelas responsáveis por gerar energia nas células). 

E essas organelas têm sua atividade aumentada para gerar calor.

(Uma pequena curiosidade é que ainda podemos considerar o tecido adiposo bege, que seria um intermediário entre os dois (ele se chama tecido adiposo “bege” justamente porque é algo entre o branco e o marrom).

O tecido adiposo bege pode assumir tanto o papel de depósito de energia quanto de geração de calor, dependendo das condições ambientais. [4] [5])

Por ora, basta guardar a seguinte informação.

O tecido adiposo marrom é capaz de queimar calorias para gerar calor.”

Ou seja: estamos falando, grosso modo, de usar sua própria gordura para queimar gordura.

Por muito tempo, acreditou-se que apenas os bebês recém-nascidos possuíssem células de gordura marrom — cuja função seria, justamente, protegê-los da perda de calor.

No entanto, pesquisas mais recentes sugerem que os adultos também podem apresentar ativação desse tecido.

E como podemos ativar o tecido que queima calorias para gerar calor?

Colocando esse mecanismo para trabalhar. 

E como fazemos isso?

Com a exposição ao frio.

Exposição Ao Frio Aumenta O Tecido Adiposo Marrom

Um estudo feito com homens adultos saudáveis mostrou exatamente isso. [6]

Nele, esses homens foram expostos ao frio, durante 2 horas por dia, por 20 dias.

O resultado? Foi observado um aumento de 45% no volume do tecido adiposo marrom.

Além disso, o tecido adiposo marrom desses homens queimou mais do que o dobro de gordura.

Desta forma, esses achados sugerem que a exposição ao frio pode aumentar a atividade da gordura marrom.

E, consequentemente, pode aumentar o seu gasto de energia através desse tecido.

Além do gasto energético em si, outros pesquisadores investigam que a ativação do tecido adiposo marrom possa trazer outros benefícios de saúde.

Por exemplo, um artigo que investiga o papel do tecido adiposo marrom na regulação do peso (e como possível tratamento para a obesidade) afirma o seguinte. [7]

A ativação do tecido adiposo marrom pode (…) prevenir a resistência à insulina, a esteatose hepática, a doença cardiovascular, e as doenças ligadas ao sistema imune.”

E, como vimos, justamente o frio — ficar em ambientes gelados, tomar banho gelado, dentre outras opções que veremos a seguir — é que ativa o tecido adiposo marrom.

Ou seja: a exposição ao frio é capaz de gerar uma ativação desse importante tecido.

Já vamos responder à pergunta de milhões: será que o banho gelado emagrece? Quanto ele emagrece?

Mas antes disso, vamos ver ainda outros benefícios do banho gelado e da exposição ao frio — benefícios estes que vão muito além do emagrecimento.

Benefícios Do Banho Gelado E Da Exposição Ao Frio: Muito Além De Emagrecer

Quando falamos de banhos gelados e de exposição do ao frio, existem três grandes benefícios documentados pela ciência.

  1.  Aumento da ação do tecido adiposo marrom (conforme vimos acima), 
  2.  Melhora da imunidade, e
  3.  Auxílio no combate à depressão.

Já discutimos acima sobre a maior ativação do tecido adiposo marrom quando somos expostos ao frio.

Agora, vamos falar um pouco mais sobre a melhora da imunidade e também do humor.

Banho gelado aumenta a imunidade

Sobre a imunidade, é interessante notar o seguinte.

Os estudos mostram que alguns tipos de células de defesa do nosso sistema imune aumentam sua atividade quando expostos ao frio.

(Outros tipos de células de defesa permanecem inalterados.)

Mas a ciência notou que a atividade de um certo grupo de células (as natural killers) é aumentada — o que favorece a resposta imune.

Além disso, a atividade de células como leucócitos, granulócitos e monócitos também aumenta. ​​

Esses resultados indicam que a exposição aguda ao frio tem o efeito de estimular a imunidade — possivelmente pelo aumento nos níveis de noradrenalina quando nos expomos ao frio. [8]

Mas não é apenas a sua imunidade que será ativada com os banhos gelados — pois, possivelmente, o seu humor também vai melhorar.

Banho gelado pode auxiliar no combate à depressão

Agora, uma linha de pesquisa fascinante sobre o uso de banhos gelados diz respeito ao combate à depressão.

Um dos principais estudos na área, inclusive, diz o seguinte. [9]

A depressão pode ser causada, segundo hipótese, pela convergência de dois fatores.

O primeiro fator seria um estilo de vida que carece de certos estressores fisiológicos que foram experimentados pelos primatas ao longo de milhões de anos de evolução — como breves mudanças na temperatura corporal (por exemplo, nadar na água fria). 

E essa falta de “treinamento térmico” pode causar um funcionamento inadequado do cérebro. 

O segundo fator seria uma composição genética que predispõe um indivíduo a ser mais afetado pela condição acima do que as demais pessoas. 

Para testar a hipótese, propõe-se uma abordagem para o tratamento da depressão que consiste em banhos frios adaptados (água na temperatura de 20ºC, por 2 a 3 minutos, precedidos por uma adaptação gradual de 5 min para tornar o procedimento menos chocante), realizados uma ou duas vezes ao dia. 

A duração proposta do tratamento é de várias semanas a vários meses. 

E existe uma linha de raciocínio que parece apoiar essa hipótese.

Isso porque a exposição ao frio é conhecida por ativar o sistema nervoso simpático e aumentar o nível sanguíneo de beta-endorfina e noradrenalina, além de aumentar a liberação sináptica de noradrenalina no cérebro.

Além disso, devido à alta densidade de receptores de frio na pele, espera-se que um banho frio envie uma enorme quantidade de impulsos elétricos das terminações nervosas periféricas para o cérebro — e isso pode resultar em um efeito antidepressivo.

Alguns experimentos mostraram que a exposição ao banho gelado diminui sintomas de depressão de maneira efetiva. 

No entanto, esses testes foram realizados num número pequeno de pessoas (não tinham significância estatística), e as pessoas não apresentavam sintomas suficientes para serem diagnosticadas como “pessoas com depressão”.

Ou seja: são necessários mais estudos, e mais rigorosos, para avaliar a validade desta hipótese.

E que fique claro: não existe garantia de que tomar banho gelado vá atuar contra a depressão.

Ao mesmo tempo, a evidência parece apontar de maneira promissora nesse sentido, sendo que esta é uma intervenção segura e de baixo risco associado.

Outros estudos experimentaram com outras formas de exposição ao frio, e também se mostraram promissores.

Num deles, a crioterapia (exposição rápida a temperaturas baixíssimas, de -110ºC a -160ºC) foi avaliada num ensaio clínico randomizado com 92 adultos que sofreram episódios depressivos. 

Os resultados indicaram que o grupo que fez crioterapia teve uma melhora estatisticamente significativa dos sintomas associados, inclusive melhora do humor e da qualidade de vida. [10]

Outro estudo investigou o caso de uma mulher de 24 anos que tinha sintomas de doença depressiva e ansiedade — e que recebia tratamentos para estas condições desde os 17 anos de idade. [11]

Os sintomas eram resistentes a medicações como fluoxetina e citalopram (medicamentos comumente usados para o manejo da depressão). 

Após o nascimento de sua filha, a mulher desejava ficar livre das medicações e dos sintomas.

Ela participou de um programa em que nadava semanalmente em águas abertas e geladas.

O resultado? 

Seu humor melhorou imediatamente após cada sessão de natação, e de maneira sustentável e gradual ela reduziu os sintomas de depressão — até conseguir reduzir e, finalmente, cessar completamente com o uso de medicações.

Um ano depois desse estudo, foram checar como ela estava — e ela continuava livre das medicações.

Resumindo: Mais evidências são necessárias para afirmar de maneira certeira que a exposição ao frio é uma estratégia potencial para o tratamento de doenças neurológicas e de humor.

(Por exemplo, no estudo de caso desta mulher de 24 anos, o fato de ela fazer exercícios — natação — já é um fator de confusão. 

Afinal, será que foi o frio que melhorou seu humor, ou o fato de ela fazer exercício físico?)

De toda forma, esta é uma área promissora — e, ao considerarmos os demais benefícios do banho gelado, e o pouco risco desta estratégia, parece sensato apostar nesta intervenção como algo que vale a pena ser investigado.

Banho gelado — outros benefícios

Além do aumento da atividade do tecido adiposo marrom, da melhora da imunidade, e da melhora do humor, alguns estudos também encontraram outros benefícios dos banhos gelados.

Por exemplo, atletas profissionais com frequência usam banhos de gelo para reduzir a inflamação e acelerar a recuperação. 

Isso funciona porque, de maneira simplificada, a exposição ao frio “limpa” seu corpo, removendo substâncias residuais como o ácido láctico que se acumula após o exercício — além de reduzir a inflamação associada à prática intensa de treino. [12]

(Mas você provavelmente não vai desejar mergulhar numa banheira de gelo se seu objetivo é atingir níveis máximos de hipertrofia

Pois a inflamação pode ser um mecanismo útil nas adaptações para o ganho de massa magra. [13])

Alguns pesquisadores também acreditam que, ao alternar a água quente com a água fria, você consegue “limpar” o sistema linfático — conforme explicou o médico Dr. Rodrigo Duprat em uma entrevista que fizemos:

Durante o banho frio, você tem uma reação noradrenérgica, você tem essa reação de estresse e etc., mas depois você tem uma anti inflamação, você estimula essa via que a gente chama de AMPK.”

De acordo com essa teoria, o sistema linfático ajuda a retirar os resíduos das células e é importante na defesa de seu corpo contra infecções indesejadas.

Quando o sistema linfático fica bloqueado, você pode acabar pegando resfriados frequentes, e pode ter dores inesperadas nas articulações.

E essa alternância de temperaturas (expondo o seu corpo à água fria imediatamente após um banho quente) limparia os vasos linfáticos e melhoraria o seu sistema imunológico.

Esse mesmo raciocínio é ecoado pelo médico Dr. João Vitor Nassaralla em entrevista ao nosso podcast:

Quando a gente sente o choque térmico, a gente libera algumas proteínas —  as proteínas do choque térmico, heat shock protein — que têm um efeito muito legal sobre a nossa imunidade.”

Resumindo: Se expor ao frio em geral, e tomar banho gelado em particular, são práticas que têm uma grande gama de benefícios sendo descobertas e confirmadas pela ciência.

Poucas coisas são taxativas, mas é um campo promissor a ser explorado — e vale a pena você conhecer alguns benefícios adicionais que pode colher ao se expor ao frio.

Agora, vamos ver 3 maneiras por meio das quais você pode começar a colher esses benefícios.

Muito Além Do Banho Gelado: 3 Maneiras De Usar O Frio A Seu Favor

Até agora, você já viu que a ciência parece apontar que a exposição ao frio é, potencialmente, bastante benéfica.

Todavia, você provavelmente não possui uma câmara de crioterapia aí na sua casa — e talvez não viva num local onde as temperaturas chegam normalmente abaixo dos 0ºC.

Sendo assim, como se expor ao frio de maneira frequente e segura?

Recorremos a uma gama de autores populares para ver sugestões de protocolos de exposição ao frio.

Nesse âmbito, chegamos ao livro 4 horas para o corpo, do autor Tim Ferriss (o criador da Dieta Slow Carb).

Ele argumenta que existem 3 formas principais de aumentar a concentração e a atividade das células do tecido adiposo marrom —  e, com isso, aumentar naturalmente seu metabolismo.

São elas:

Opção #1: Colocar um saco de gelo na região de trás do pescoço e trapézio por 20 a 30 minutos por dia. 

Ele escolheu esta região por acreditar que ela naturalmente concentra uma maior quantidade de células do tecido adiposo marrom — aquele que é ativado pela exposição ao frio.

Opção #2: Consumir pelo menos 500ml de água gelada imediatamente ao acordar. 

Ferriss acredita que isso ajuda a aumentar a taxa de metabolismo basal. 

Depois de tomar essa água gelada, você pode comer seu café da manhã normalmente (ou pular esta refeição, se você faz jejum intermitente).

Opção #3: Tomar banhos gelados com duração de 5 a 10 minutos, pela manhã e/ou antes de dormir. 

Ferriss recomenda começar com 1 a 2 minutos usando água morna e, depois de se ensaboar, mudar para água fria. 

Isso vai te acordar mais do que qualquer café.

Uma outra possibilidade é começar essa prática aos poucos, com a água não tão gelada, e ir progredindo conforme passam os dias.

Neste contexto, seria mais importante ter regularidade na prática, e seguir progredindo paulatinamente.

Resumindo: Como vimos, fazer crioterapia e caminhar em meio à neve vestindo roupas de verão não são as únicas opções para você se expor ao frio. 

O quanto cada uma delas é efetiva para a saúde e o emagrecimento ainda precisa ser estudado. 

Mas, certamente, um pouco de exposição ao frio já é melhor do que nada.

E, falando em emagrecimento, chegou a hora da verdade: quanto peso você pode esperar perder com o banho gelado e a exposição ao frio?

Frio Para Emagrecer: Quanto Peso Vou Perder?

Até agora, vimos que o corpo humano consegue gerar calor (e queimar gordura) por conta própria.

Vimos que isso acontece principalmente por conta do tecido adiposo marrom.

E que tomar banho gelado, e se expor ao frio, pode ter vários benefícios de saúde — de aumentar a imunidade a melhorar o humor.

Mas, agora, talvez você esteja se perguntando o seguinte.

Entendi que o banho gelado pode ter benefícios… mas e sobre o emagrecimento? Após começar a tomar banhos gelados, quanto peso posso esperar perder?”

Neste ponto, um interessante estudo da Escandinávia pode ajudar a obter algumas respostas.

Nesse estudo, os pesquisadores queriam comparar diversas características num grupo de “homens que fazem natação no inverno” contra um outro grupo, que não fazia isso (o grupo controle). [14]

De 2 a 3 vezes por semana, os participantes fizeram uma modalidade de “natação de inverno”, que envolve uma combinação de uma rápida imersão em água muito gelada, seguida por uma sauna.

(Essa atividade parece ser popular em alguns países mais frios como Finlândia e Islândia.)

Dentre as diversas medições feitas, algumas das mais interessantes dizem respeito ao gasto calórico e à atividade do tecido adiposo marrom.

Resumidamente, os pesquisadores fizeram medições do gasto calórico de repouso em duas condições: a primeira medida foi feita em temperatura ambiente.

Já a segunda medida foi feita após os participantes ficarem expostos ao frio por 30 minutos.

Eles foram expostos a uma temperatura bem fria, porém levemente acima daquela que os faria tremer de frio. 

Isso foi feito para que os pesquisadores pudessem avaliar com mais clareza quais eram os efeitos da termogênese sem tremores.

(Lembra que falamos dos dois tipos de termogênese no começo deste artigo?)

O estudo é bem interessante, e alguns dos destaques são os seguintes:

  • Os nadadores eram significativamente mais magros que os membros do grupo controle (eles tinham cerca de 12% de gordura corporal, contra 18,2%),
  • Eles tinham um gasto calórico similar na temperatura ambiente (2038 kcal/dia contra 2005 kcal/dia), porém
  • Tinham um gasto energético bem mais alto quando expostos ao frio (3044 kcal por dia, contra 2560 kcal/dia). 

Vamos ver o que esses números querem nos dizer.

De maneira resumida, eles mostram o seguinte.

As pessoas não acostumadas a se expor ao frio (e, portanto, sem tanta gordura marrom para ser estimulada), tiveram um incremento de mais de 25% em seu metabolismo.

Já as pessoas acostumadas ao frio (os nadadores de inverno, que possivelmente possuem mais tecido adiposo marrom) tiveram um aumento de quase 50% no seu gasto metabólico basal.

Parece ótimo, certo? Se expor ao frio e aumentar seu metabolismo em mais de 50%. 

Já imagino as manchetes.

Esqueça dietas como low-carb ou cetogênica — vamos todos fazer a “dieta do gelo”.

No entanto, é neste momento que precisamos fazer uma leitura mais cuidadosa dos dados.

Porque, embora esse número possa gerar manchetes chamativas — do tipo “ficar no frio aumenta gasto energético em 50%”, nosso compromisso aqui é com a verdade.

É colocar você no controle do seu corpo.

E, para isso, precisamos entender o que esses números realmente significam. 

Em primeiro lugar, vamos notar que esta elevação de 50% é observada apenas no grupo dos “nadadores de inverno” — isto é, naquelas pessoas acostumadas à exposição ao frio.

No entanto, eu imagino que você não tenha esse hábito de fazer sauna e nadar na neve no seu dia a dia.

Desta forma, você acaba sendo muito mais similar ao grupo controle — que tem uma elevação de metabolismo de metade desta, na ordem de 25%.

Ok, 25% de gasto metabólico a mais por dia ainda assim não parece ruim: ainda mais porque, no estudo, isso se traduziu em um gasto de 555 kcal a mais por dia.

Queimar 555 kcal a mais por dia sem fazer dieta nem exercícios? Parece bom!

No entanto, temos o segundo ponto.

Este aumento da taxa metabólica de repouso até poderia ser de 555 kcal/dia — mas ele só acontece quando as pessoas estão expostas ao frio.

Isto é: o número de 555 kcal a mais sendo queimadas apenas seria verdadeiro se você ficasse o dia inteiro (24h) na temperatura gelada.

Na prática, se você ficasse exposto(a) ao frio por “apenas” uma hora por dia, então, na verdade, teríamos um aumento absoluto de 555 kcal, divididos pelas 24h do dia = 23 kcal.

Isto é: uma hora mergulhada na água gelada, passando frio, para queimar míseras 23 kcal. Este é um número absolutamente insignificante.

Não acreditamos que você tenha de contar calorias para emagrecer.

Mas, apenas para efeito de comparação, uma pessoa de 70kg queima essas mesmas 23 kcal em menos de 10 minutos de caminhada.

Ou ainda: Compare isso com um estudo em que as pessoas simplesmente ingeriram grandes doses de cafeína, e queimaram cerca de 150 kcal a mais num dia. [15]

Isto representa um gasto energético mais de 6x maior do que ao passar uma hora por dia no frio.

Eu não sei você, mas eu gosto mais de uma caminhada agradável — ou de um café (sem açúcar, por favor) do que de passar frio.

Além disso, temos outras implicações de ordem prática.

Por exemplo, no estudo dos nadadores de inverno, eles estavam submersos na água gelada.

Mas, se você não estiver de fato imerso na água (e sim tomando apenas uma ducha, por exemplo), é difícil afirmar que os efeitos seriam da mesma magnitude.

Por outro lado, temos outro ponto a considerar: lembrar que este estudo usou temperaturas logo acima do limiar de tremor.

Ele fez isso porque seu objetivo era quantificar o impacto da atividade do tecido adiposo marrom — e, por isso, queria deixar de fora o gasto de energia induzido pelo tremor.

Porém, expor alguém ao frio em temperaturas ainda menores poderia causar um efeito mais relevante de gasto energético.

(Embora também possa tornar essa intervenção ainda mais desagradável, desconfortável e talvez impraticável.)

Levando tudo isso em conta, dá para contar com o emagrecimento advindo do uso de banho gelado?

Os dados acima indicam que não — e eles estão de acordo com uma revisão de estudos recentes. [16]

Dentre os destaques desta revisão, temos as seguintes observações.

“Estudos em humanos não dão suporte à hipótese de que a indução e ativação de [tecido adiposo marrom] possa ser uma estratégia eficaz para o controle do peso corporal”.

Inclusive porque o gasto energético que é resultante dessa exposição ao frio provavelmente leva a efeitos compensatórios, como aumento no apetite.

(Isso é bastante comum em pessoas que tentam usar apenas exercícios para emagrecer, sem mudanças simultâneas na alimentação: a pessoa até gasta mais energia, mas seu corpo “compensa” esse gasto, aumentando a sua fome — um pouco sobre exercícios e emagrecimento aqui.)

Desta forma, há poucas razões para acreditar que qualquer modelo prático de exposição ao frio possa levar a mudanças significativas na composição corporal.

Resumindo: O frio (na forma de imersão em água gelada, banho frio, ou outras) aumenta o metabolismo, e aumenta o gasto energético.

No entanto, o impacto desse aumento não é significativo em termos práticos, e uma estratégia de perda de peso baseada nisso está fadada ao fracasso.

Feliz ou infelizmente, a ciência aponta com cada vez mais clareza que a principal alavanca que possuímos para mudar nosso peso e emagrecer com saúde é alterar a alimentação.

Exposição Ao Frio E Banho Gelado Para Emagrecer: Conclusão E Palavras Finais

Neste artigo, vimos algumas evidências e o possível mecanismo pelo qual a ciência acredita que a exposição do nosso corpo ao frio pode trazer benefícios para sua saúde.

Falamos sobre alguns benefícios da exposição ao frio — que vão desde uma maior ativação do tecido adiposo marrom, até melhoras do humor, passando pelo aumento da imunidade.

E até mesmo exploramos as minúcias sobre quanta elevação de metabolismo podem esperar, e quanto gasto energético podemos observar, ao tomar banho gelado para emagrecer.

Neste contexto, o resultado não foi tão animador: conquanto se expor ao frio pareça ser benéfico para a saúde, e possa oferecer melhorias à saúde metabólica dos praticantes dessa intervenção, não parece que a exposição ao frio possa compensar uma alimentação ruim, ou outros maus hábitos de estilo de vida.

Isto é: por mais que a ciência venha mostrando que banhos gelados sejam benéficos, tomar banho gelado jamais vai compensar uma alimentação ruim.”

Nesse ponto, note o seguinte.

É muito fácil decairmos para um mecanicismo científico: ficarmos obcecados com os “mecanismos” e “teorias” de por que algo funcionaria — e esquecer o mundo real, onde os fenômenos e resultados de fato acontecem.

(Se gosta do assunto, vai amar uma conversa que tivemos sobre estes temas neste podcast com o presidente da sociedade mineira de nefrologia Dr. José Neto.)

Desta maneira, saiba que não adianta você ter uma dieta pautada em pães, bolos, pizzas, bolachas, doces, cerveja, etc., e achar que tomar alguns banhos frios na semana irá te salvar.

Isso simplesmente não vai acontecer.

Emagrecer e melhorar sua saúde depende, antes de mais nada, de sua alimentação.

Por isso, se você quer melhorar sua forma física e viver uma vida com mais saúde, a ciência indica alguns caminhos claros:

Se tiver problemas metabólicos, pode se beneficiar especialmente de uma intervenção baixa em carboidratos (como a dieta low-carb) — especialmente se ela for bem elaborada, e seguir os pilares acima.

Nós ensinamos como montar um cardápio baseado nestes princípios no nosso treinamento Cardápio Tanquinho 2.0.

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E claro: se tiver alguma dúvida ou comentário sobre a questão do frio para emagrecer, sinta-se livre para deixar um comentário aqui embaixo — ou falar com a gente no nosso Instagram @senhortanquinho.

Forte abraço,
— Guilherme e Roney, do Senhor Tanquinho.

Referências

De modo a deixar a leitura mais fluida, separamos algumas referências em que nos baseamos para escrever este artigo.

  1. François Haman & Denis P. Blondin (2017) Shivering thermogenesis in humans: Origin, contribution and metabolic requirement, Temperature, 4:3, 217-226, DOI: 10.1080/23328940.2017.1328999
  2. Denis P. Blondin, François Haman. Shivering and nonshivering thermogenesis in skeletal muscles  Handbook of Clinical Neurology In , 153–73. Elsevier, 2018. https://doi.org/10.1016/b978-0-444-63912-7.00010-2
  3. Cannon, B., & Nedergaard, J. (2004). Brown adipose tissue: function and physiological significance. Physiological reviews, 84(1), 277–359. https://doi.org/10.1152/physrev.00015.2003 
  4. Qian, S., Huang, H. & Tang, Q. Brown and beige fat: the metabolic function, induction, and therapeutic potential. Front. Med. 9, 162–172 (2015). https://doi.org/10.1007/s11684-015-0382-2 
  5. Sidossis, L., & Kajimura, S. (2015). Brown and beige fat in humans: thermogenic adipocytes that control energy and glucose homeostasis. The Journal of clinical investigation, 125(2), 478–486. https://doi.org/10.1172/JCI78362 
  6. Denis P. Blondin, Sébastien M. Labbé, Hans C. Tingelstad, Christophe Noll, Margaret Kunach, Serge Phoenix, Brigitte Guérin, Éric E. Turcotte, André C. Carpentier, Denis Richard, François Haman, Increased Brown Adipose Tissue Oxidative Capacity in Cold-Acclimated Humans, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, Volume 99, Issue 3, 1 March 2014, Pages E438–E446, https://doi.org/10.1210/jc.2013-3901
  7. Mulya, A., & Kirwan, J. P. (2016). Brown and Beige Adipose Tissue: Therapy for Obesity and Its Comorbidities?. Endocrinology and metabolism clinics of North America, 45(3), 605–621. https://doi.org/10.1016/j.ecl.2016.04.010 
  8. Brenner, I. K., Castellani, J. W., Gabaree, C., Young, A. J., Zamecnik, J., Shephard, R. J., & Shek, P. N. (1999). Immune changes in humans during cold exposure: effects of prior heating and exercise. Journal of applied physiology (Bethesda, Md. : 1985), 87(2), 699–710. https://doi.org/10.1152/jappl.1999.87.2.699 
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  10. Rymaszewska, J., Lion, K. M., Pawlik-Sobecka, L., Pawłowski, T., Szcześniak, D., Trypka, E., Rymaszewska, J. E., Zabłocka, A., & Stanczykiewicz, B. (2020). Efficacy of the Whole-Body Cryotherapy as Add-on Therapy to Pharmacological Treatment of Depression-A Randomized Controlled Trial. Frontiers in psychiatry, 11, 522. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2020.00522 
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  12. Ziemann, E., Olek, R. A., Kujach, S., Grzywacz, T., Antosiewicz, J., Garsztka, T., & Laskowski, R. (2012). Five-day whole-body cryostimulation, blood inflammatory markers, and performance in high-ranking professional tennis players. Journal of athletic training, 47(6), 664–672. https://doi.org/10.4085/1062-6050-47.6.13 
  13. Lilja, M., Mandić, M., Apró, W., Melin, M., Olsson, K., Rosenborg, S., Gustafsson, T., & Lundberg, T. R. (2018). High doses of anti-inflammatory drugs compromise muscle strength and hypertrophic adaptations to resistance training in young adults. Acta physiologica (Oxford, England), 222(2), 10.1111/apha.12948. https://doi.org/10.1111/apha.12948 
  14. Søberg, S., Löfgren, J., Philipsen, F. E., Jensen, M., Hansen, A. E., Ahrens, E., Nystrup, K. B., Nielsen, R. D., Sølling, C., Wedell-Neergaard, A. S., Berntsen, M., Loft, A., Kjær, A., Gerhart-Hines, Z., Johannesen, H. H., Pedersen, B. K., Karstoft, K., & Scheele, C. (2021). Altered brown fat thermoregulation and enhanced cold-induced thermogenesis in young, healthy, winter-swimming men. Cell reports. Medicine, 2(10), 100408. https://doi.org/10.1016/j.xcrm.2021.100408 
  15. Dulloo, A. G., Geissler, C. A., Horton, T., Collins, A., & Miller, D. S. (1989). Normal caffeine consumption: influence on thermogenesis and daily energy expenditure in lean and postobese human volunteers. The American journal of clinical nutrition, 49(1), 44–50. https://doi.org/10.1093/ajcn/49.1.44 
  16. Marlatt, K. L., Chen, K. Y., & Ravussin, E. (2018). Is activation of human brown adipose tissue a viable target for weight management?. American journal of physiology. Regulatory, integrative and comparative physiology, 315(3), R479–R483. https://doi.org/10.1152/ajpregu.00443.2017 

13 comentários em “Banho Gelado Emagrece? Como Usar O Frio Para Emagrecer”

  1. Ola Alex! Obrigado pela participação

    Pra falar a verdade, não sabíamos desse benefício do banho gelado, mas caramba que legal! Muito interessante que você tenha conseguido se livrar disso naturalmente.

    Parabens!

    Abraços

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