Podcast #099 — Como Ler E Interpretar Seus Exames De Sangue, Com Dr. João Vitor

A gente tem que olhar o exame e não só olhar para o valor de referência, a gente tem que ver todo o mecanismo, todos os detalhes que estão por trás daquele exame.”

Este é um podcast fundamental para todas as pessoas que fazem exame de sangue.

Porque é provável que você já tenha, pelo menos uma vez, aberto seu laudo dos exames de sangue…

E pensado o seguinte: será que isso está bom ou ruim?

Até porque os valores de referência dos laboratórios nunca contam a história toda.

Depois de ouvir este episódio, você nunca mais vai ver seus exames de sangue da mesma forma. 

Por isso, escute atentamente até o final para saber:

  • quais são os exames de sangue mais importantes,
  • como interpretar os valores de referência,
  • o que olhar nos seus exames da tireoide,
  • como interpretar seu exame de colesterol,
  • uma grave falha do nosso sistema de saúde,
  • a importância dos exames de glicemia em jejum e insulina em jejum,
  • não existe “gordinho saudável”: entenda;
  • comecei a low-carb e meu colesterol subiu. E agora?
  • alterações na ferritina — devo me preocupar?
  • alteração na creatinina — o que pode estar causando,
  • homocisteína — um exame importante, mas pouco solicitado,
  • vitamina B12 elevada é perigoso?
  • a poderosa relação entre HDL e triglicérides,
  • meus exames estão mudando ano após ano… devo me preocupar?
  • um erro no exame pode te levar a tomar remédios sem necessidade,
  • preste atenção no seu exame de testosterona,
  • como aprender (ainda) mais sobre os exames de sangue,

E muito, muito mais.

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Bem-vindo a mais um podcast do Senhor Tanquinho. 

Somos Guilherme e Roney, e aqui a nossa missão é deixar você no controle do seu corpo. 

Antes de irmos ao episódio em si, queremos agradecer aos apoiadores que tornam este projeto possível.

Apoiador #1 — Loja Online Tudo Low-Carb

Este podcast é um oferecimento da loja online Tudo Low-Carb

A Tudo Low-Carb é uma loja que vende somente produtos que se encaixam numa dieta low-carb e cetogênica

Lá você vai comprar de tudo, desde farinhas low-carb até adoçantes como xilitol, eritritol, e estévia.

Além de temperos e produtos naturais, feitos com comida de verdade. 

Nós conhecemos pessoalmente Eliana, fundadora da loja.

E ela nos garantiu que monitora constantemente os valores para que a Tudo Low-Carb tenha os melhores preços dos adoçantes xilitol, eritritol e da farinha de amêndoas.

Então, se esse é o seu caso, se você quer comprar ingredientes para receitas low-carb, recomendamos acessar a Tudo Low-Carb — porque lá é garantido que você vai encontrar. 

Apoiador #2 — Medidor de cetonas Uaiketo

Esse podcast também é um oferecimento do Uaiketo — e o que é o Uaiketo? 

O Uaiketo é um aparelhinho que serve para medir o seu nível de cetose através do hálito. 

A gente achou muito interessante esse aparelho porque você pode saber o seu nível de cetose sem ter que furar o seu dedo ou fazer um exame de sangue para isso. 

É um aparelho realmente revolucionário no mercado — e o mais legal é que o Uaiketo é uma tecnologia 100% brasileira. 

O Iago, criador deste aparelho, entrou em contato com a gente, e a gente achou super legal divulgar essa iniciativa —  é por isso que hoje o Uaiketo é um dos patrocinadores aqui do podcast. 

A gente recomenda que você conheça esse aparelho, se a sua intenção é saber o seu nível de corpos cetônicos. É só acessar o uaiketo.com.br.

Apoiador #3 — Nossos alunos do Guia Dieta Cetogênica

Este podcast só existe graças aos alunos do nosso programa VIP Guia Dieta Cetogênica

O Guia Dieta Cetogênica é um curso em vídeo com todas as informações, passo a passo, para você seguir uma dieta cetogênica de sucesso. 

E como bônus para você que escuta os nossos podcasts, a gente colocou dentro do programa, na área de membros especiais, todos os nossos livros e manuais digitais já publicados até hoje. 

Então, são centenas de receitas. Tem também o nosso livro de apoio, com 120 dúvidas sobre alimentação saudável respondidas, com prefácio do Dr. José Neto, um livro super elogiado por profissionais como o Dr. Rodrigo Bomeny, Danilo Balu e por vários e vários convidados que já passaram pelo nosso podcast.

E ainda tem tabelas, infográficos, textos explicativos, resumos em pdf, um grupo secreto no Facebook e muito, muito mais. 

Então, convido você a conhecer o nosso programa Guia Dieta Cetogênica.

Transcrição Completa Do Episódio Com Dr. João Vitor Nassaralla

Guilherme: Olá, Tanquinho. Olá, Tanquinha. Sejam muito bem-vindos e bem-vindas ao nosso podcast. 

E hoje, a gente traz novamente um convidado muito querido de vocês para tratar de um tema que vocês pediram bastante, é o Dr. João Vitor, e a gente vai ensinar você como ler os exames de sangue de maneira correta. Tudo bem, João?

Dr. João Vitor: Guilherme, Roney, muito obrigado pelo convite, mais uma vez, muito feliz de estar aqui com vocês. 

Roney: O João, para quem acompanha o nosso podcast, já veio aqui outras duas vezes, outras duas entrevistas.

Uma em que falamos sobre biohacking e sobre ser seu próprio médico.

E outra entrevista com o Dr João Vitor e o Dr. Vitor Azzini sobre imunidade

É um prazer ter você de volta aqui conosco, João. 

Como o Gui falou, hoje a gente vai querer tratar dessa parte de exames laboratoriais. 

Para começar, João, você poderia contar para gente quais são os exames mais comumente pedidos pelos médicos, e quais deveriam ser os exames que a gente deveria pedir para nosso médico se ele não incluir dentro dessa listinha básica. 

Quais São Os Exames De Sangue Mais Importantes

Dr. João Vitor: Perfeito, muito boa essa pergunta porque esse é um dos temas que eu acho que todo mundo tem mais interesse em saber: o que pedir no meu check up, o que incluir no meu check up?

Muitas vezes, a gente observa que o check up é uma série de exames padrões e que muitas vezes não fazem tanto sentido, ou que muitas vezes, para você, não vão te ajudar muito. 

Então, algumas vezes você vai num local e tem um pacote do check up pronto, que você compara e faz aqueles exames.

Ou então se você for no médico, muitas vezes ele já tem um pedido padrão, pronto, daqueles exames mais básicos, que é basicamente um hemograma, um colesterol, uma glicose, painel de tireoide, e não foge muito disso. 

Muitas vezes, a pessoa faz esses exames, que são exames que dão algumas informações sobre o seu corpo, sobre o seu metabolismo, mas ignoram muitas outras coisas, que seriam interesses de a gente dosar — que eu vou explicar quais são.

E muitas vezes você vai no médico, e o médico fala que os seus exames estão normais e daí você já fica tranquilo. 

Então, é aquela pessoa que não tem um estilo de vida muito legal, muitas vezes ela tem um sobrepeso, uma obesidade…

Mas ela fala “não, meus exames estão normais então eu vou continuar fazendo o que eu já faço”. 

Isso geralmente ocorre porque os exames de sangue de um check up normal, eles têm uma abordagem de fazer diagnóstico de alguma doença que já está estabelecida, uma doença que já se instalou no seu corpo. 

Muitas vezes, esses exames não são capazes de identificar algum desequilíbrio metabólico, alguma inflamação subclínica, que não causou uma doença ainda — mas que vai virar uma doença, vai virar um diabetes, uma síndrome metabólica, alguma coisa… daqui a dois, cinco, dez anos.”

Então, quando a gente fala desses exames comuns de hemograma, colesterol, glicose, o básico, são exames importantes que nos dão muita informação.

Porém, para fins de prevenção, eles ficam um pouco aquém daquilo que a gente gostaria de fazer. 

Então, um exame super, super importante, super simples de fazer e que quase nenhum médico solicita, felizmente cada vez mais a gente vê esse exame sendo solicitado, é a insulina de jejum

Porque para o diagnóstico da resistência insulínica, do diabetes, geralmente se solicita só a glicose em jejum, a glicemia em jejum, ou a hemoglobina glicada.

E muitas vezes esses valores de exame eles demoram muito para alterar, ao passo que a insulina em jejum é um dos que primeiro se altera quando você tem uma alimentação, por exemplo, muito rica em carboidrato, quando você está com uma resistência insulínica

O que que a insulina em jejum diz para nós? 

Você pode achar que você está bem porque a sua glicose em jejum tá abaixo de 100, que é o valor de referência, então ela fica sempre 90, 92, 95. 

Mas, se a sua insulina tiver alta, significa que o seu corpo está tendo que liberar muita insulina para conseguir manter essa glicose em jejum num valor razoável, num valor abaixo ali da nossa referência, que é o considerado indivíduo saudável, que não tem pré-diabetes ainda. 

Só que se você dosa a insulina em jejum, e a insulina em jejum dessa pessoa está 15, está 20, significa que o corpo já está tendo que fazer um esforço além da conta para conseguir manter aquela glicemia em jejum baixa, ou dentro da referência. 

Então, isso é uma coisa interessante, porque muitas vezes a pessoa está satisfeita porque a glicose dela tá abaixo de 100, mas ela está com uma resistência insulínica já estabelecida, e isso pode estar atrapalhando ela a emagrecer; isso vai virar um pré-diabetes; isso vai favorecer uma síndrome metabólica. 

E isso é só para dar um exemplo.

A gente tem que olhar o exame e não só olhar para o valor de referência, a gente tem que ver todo o mecanismo, todos os detalhes que estão por trás daquele exame.”

Outro exame também que eu acho essencial, que é pouco solicitado, é a proteína C-reativa ultra sensível, que é um exame que vai nos dizer como está o estado inflamatório do seu corpo. 

A proteína C-reativa, ou PCR ultra sensível — que não tem nada a ver com o PCR do coronavírus, são exames diferentes — mostra se há uma inflamação presente no seu corpo ou não. 

Geralmente se você tem uma infecção de garganta, se você torceu o pé ou se você tem uma inflamação aguda, a PCR vai vir alterada, então ela vem em valores altos: 15, 20, 30.

Agora, se você não está com nenhum estado inflamatório ativo, uma inflamação aguda, e mesmo assim você vem com a PCR com valores um pouco mais alto, geralmente é acima de 1, é sinal que tem uma inflamação subjacente no seu corpo, uma inflamação subjacente é uma inflamação crônica, constante que está o tempo ali, corroendo o seu corpo.

A inflamação crônica acelera o envelhecimento, ela pode causar um dano no DNA, ela deixa as suas células menos eficazes, então, ela, digamos que é a origem de todas as doenças crônicas, ela está numa inflamação subclínica, numa inflamação de baixo grau, mas que é constante. 

Então, dois exames super simples, que é a PCR ultra sensível e a insulina em jejum, que geralmente não são solicitados na maioria dos checkups. 

Guilherme: Perfeito, João. E, quando a gente fala desses valores de glicose e de insulina, eu acho que é interessante notar justamente esse ponto que você falou.

Que, quando a glicose em jejum começa a dar muito alta, o estrago já foi feito lá trás. 

Então o exame da insulina poderia ter esse aspecto mais preventivo. 

E usando os dois podemos ter o cálculo do HOMA-IR, não é isso?

Dr. João Vitor: Perfeito. 

Esse é um dos grandes problemas da medicina moderna, nos últimos cem anos: ela acaba esperando a doença chegar em vez de ela conseguir identificar que a doença está chegando para preveni-la.”

Então, esse exame da insulinemia mesmo é um exame simples, que mostra uma pessoa que está com uma maior tendência a desenvolver o diabetes nos próximos cinco anos. 

Mas, enfim, eu dei esses dois exemplos, depois eu tenho um PDF, eu vou passar o link para vocês, vocês deixam aqui na descrição, que é um PDF dos exames mais importantes, que eu considero, e que geralmente não são solicitados. 

(Link para o PDF Cheklist: os exames de sangue que você DEVE fazer.)

Lá tem a lista desses exames e tem um ou outro detalhe ali sobre o que significa aquele exame, como interpretar.

Eu acho que se eu fosse falar de todos a gente ia ficar algumas horas aqui. 

Roney: Sem dúvidas, João, sem dúvida. 

Outra coisa que eu acho que é legal de destacar dos exames de sangue, são que eles vem com os valores de parâmetro e, muita gente, como você falou, só olha “ah, tá dentro, tá fora”, e aí já “tá bom, tá ruim, tenho que mudar, não tenho”.

Como seria o jeito certo de lidar com esses valores de referências? 

Eles são corretos, eles são bons para todo mundo? 

Afinal, o valor de referência é padronizado para todas as pessoas.  Qual a sua visão sobre isso?

Como Interpretar Os Valores De Referência

Dr. João Vitor: Exatamente, os valores de referências, eles são apenas e nada mais do que uma referência.

E, muitas vezes, uma referência bem fraquinha, uma referência bem fajuta, podemos dizer assim. 

A grande maioria dos valores de referência são definidos de uma forma meramente estatística. 

Então, a maioria dos valores de referência — a glicose, por exemplo, não é assim, o colesterol não é assim — esses exames que são mais solicitados eles já têm alguns valores de referência definidos com um pouco mais de precisão. 

Porém, a gente tá falando de 100, 200, 300 exames bioquímicos.

E, para a grande maioria deles, os valores de referência são definidos de uma maneira puramente estatística. 

Como assim? 

Ao fazer uma pesquisa, eles pegam um grupo grande de pessoas, mil, duas mil, dez mil pessoas, e dosam determinado marcador bioquímico no sangue daquela pessoa. 

Exames Da Tireoide

Vamos supor que esse é o TSH, que é o hormônio estimulador da tireoide

Uma vez que você dosou essas dez mil pessoas, você simplesmente vai colocar isso num gráfico, numa tabela, e você vai considerar que 95% dessas pessoas têm um TSH normal. 

Então, é aquela curva normal, aquela distribuição de Bell, e considera-se que 95% das pessoas estão normais e que os dois e meios que estão nos extremos, então, os 2,5% que deram muito baixo, e os 2,5% que deram muito alto, considera-se que estão acima da média. 

No caso do TSH, se você pegar esses 95%, que é a média mais ou menos do desvio padrão, ele vai de 0.5 até 5.5, ou seja, é um intervalo que tem uma escala de grandeza, de 0.5 até 5.5. 

Então, quem tá no topo do valor de referência tem o TSH dez vezes mais elevado do que aquele que está no início do valor de referência. 

Mas ambos estão dentro do valor de referência. 

Mas você há de convir que uma pessoa que tem dez vezes mais uma substância no sangue do que outra não tem nada de parecido com ela. 

E assim como esse exemplo do TSH, vários e vários outros valores de referências são definidos de forma meramente estatística. 

Qual é o problema ao fazer isso? Quando você pega um grupo de dez mil pessoas e considera que 95% delas estão normais, você está considerando que 95% da população está sempre saudável. 

E, infelizmente, isso é uma coisa que a gente não vê no dia de hoje; a gente tem uma população que está cada vez mais enferma, mais doente, mais desequilibrada do ponto de vista metabólico, fisiológico. 

Então, quando você faz esse tipo de definição de valor de referência, o valor de referência deixa de ter uma confiabilidade alta. 

Então, por que que eu tô falando isso? Porque eles são importantes sim, eles são uma referência, mas, muita gente, às vezes, vai no médico, entrega os exames, o médico bate o olho correndo, fala que tá tudo bem, a pessoa pergunta, o médico não dá muita conversa, porque tá com pressa, sei lá, e a pessoa acaba olhando os exames por conta própria, e daí quando ela começa a olhar por conta própria, ela começa a ver que tem alguns exames que estão dentro da referência, e que alguns exames estão fora da referência. 

Muitas vezes, se você tem um TSH que tá dentro da referência, mas ele tá um pouco mais alto, ele está ali próximo de 4, e se você, principalmente, já tiver um sintoma ou outro de hipotireoidismo, você tem um hipotireoidismo e esse diagnóstico não vai ser feito se você olhar só para o valor de referência. 

Então, é muito comum, chega para mim muitos casos assim, de pacientes que tem todos os sintomas de um hipotireoidismo, mas como os exames estavam dentro do valor de referência, em nenhum momento o médico fechou o diagnóstico e começou o tratamento para hipotireoidismo nessas pessoas. 

[ Relacionado: saúde da tireoide e a dieta cetogênica.]

E é interessante que muitas vezes a pessoa traz para mim de três anos atrás, e você vê que o TSH ele está levemente subindo até chegar num ponto limítrofe, mas a pessoa já está com a doença estabelecida, ainda que esteja dentro do valor de referência. 

Então, isso é uma coisa que, muitas vezes, a gente espera estar fora do valor de referência para tratar, quando não deveria

Agora, o contrário também acontece: muitas vezes, quando o seu exame está fora do valor de referência, não necessariamente você precisa ser tratado. 

Então, é muito importante você olhar para o paciente, olhar para os seus sintomas, olhar para a sua fisiologia e ver o que que o seu corpo está falando, quais mensagens ele está passando para gente, e depois a gente olha o exame e vê se o exame ajuda a gente com mais alguma informação. 

Exames De Colesterol

Eu vou agora para o exemplo do colesterol, que o colesterol total ele tem como valor de referência 200, que é um valor que eu considero muito baixo. 

E já tem alguns laboratórios que estão querendo baixar esse valor para 190, então, dependendo de onde você fizer o seu exame de sangue, a referência vai vir ali, “colesterol total deve estar abaixo de 190”. 

Por quê? Porque quanto mais baixo esse valor, mais pessoas vão estar com colesterol acima do valor, e mais pessoas vão ter indicação, segundo as recomendações oficiais, de usar estatina, o que na minha opinião é uma grande bobagem. 

Todo mundo que segue o Senhor Tanquinho já tentou, ou é adepto, de uma dieta low-carb, de uma dieta cetogênica.

E quando você faz uma dieta low-carb, cetogênica ou carnívora, a coisa mais fácil que pode acontecer é o seu colesterol passar de 200, e muita gente fica morrendo de medo quando o colesterol passa de 200, às vezes 250, 300, 400, 600 eu já vi em dieta cetogênica. 

A pessoa acha que ela vai ter alguma doença, algum infarto, que ela vai ficar muito ruim, e a gente sabe que o valor do colesterol em si, ele é uma coisa que não significa muita coisa.

Porque o colesterol só vai ser uma ameaça para a nossa saúde, só vai entrar nas nossas artérias, só vai formar a cicatriz, a fibrose, o ateroma, se houver inflamação no seu corpo. 

Então, se você tem uma dieta saudável, se você não está inflamado, se o seu intestino está legal, se você tá dormindo bem, se você tá com o cortisol sob controle, e o seu colesterol está acima do valor de referência, pode ficar tranquilo que esse colesterol não vai conseguir entrar dentro da artéria, ele não vai conseguir causar o ateroma. 

Tanto é assim que a gente sabe que metade das pessoas que chegam no hospital tendo infarto, tem um colesterol normal.

Ou seja: o fato de a pessoa estar usando estatina para deixar o colesterol baixo não a preveniu de ter um evento coronariano, de formar um ateroma, de ter um infarto. 

Muitas vezes tentar tratar uma doença só mudando os números ali no exame de laboratório é como se você tivesse fazendo um photoshop na sua saúde.

Você vai ali, muda uma coisa, o número do exame de laboratório fica bonito, mas na prática a sua fisiologia continua doente. 

Para não falar dos malefícios da estatina: a maioria das pessoas que usa estatina não tem indicação, e a maioria das pessoas usa sem indicação e costuma sofrer os efeitos colaterais de ter um colesterol baixo e de usar a estatina. 

A estatina reduz a sua produção de colesterol e, consequentemente, reduz a sua produção de coenzima q10, que é um subproduto da produção endógena de colesterol. 

Então, a pessoa vai ter os sintomas clássicos da estatina que é, por exemplo, uma dor muscular, uma dor nas pernas, um cansaço, uma fadiga, a mente fica um pouco mais devagar, a cabeça não fica tão boa, simplesmente porque tá faltando a coenzima q10: a sua mitocôndria não tá funcionando com tanta eficácia quanto ela poderia. 

Então, eu acho que isso é uma coisa que a gente tem que falar também, porque muitas vezes o seu exame está dentro da referência e isso não é bom.

E, no caso do colesterol, se ele estiver fora da referência não necessariamente isso significa um perigo para você. 

Então, eu acho que é uma coisa que a gente tem que começar a mudar, porque senão a gente vai sair dando remédio para todo mundo. 

Enfim, eu acho que esses dois exemplos foram bem eloquentes; um, o da tireoide, que está dentro do valor de referência, mas que não necessariamente é bom.

E o caso do colesterol em uma pessoa saudável, que pode estar acima sim do valor de referência, e que não é uma coisa que a gente precisa forçar usando remédio para abaixar, para ficar dentro de um valor específico. 

As Falhas Do Nosso Sistema De Saúde

Guilherme: Perfeito, João. 

Para quem tá ouvindo a gente, daqui a pouco a gente vai pegar números reais de dois exames de acompanhamento, de uma pessoa que faz low-carb, uma pessoa anônima e misteriosa que… na verdade, sou eu. [risos]

A gente vai dar uma olhada em dois valores para ver a evolução e como seria, justamente, o que tá dentro da referência, o que tá fora. 

E é engraçado notar como que o colesterol total tem esse limite super baixo, de 190 no laboratório mais recente que eu fiz o exame.

Agora, os triglicerídeos têm um valor de 150.

No HDL, o mínimo é 40.

E você pode estar completamente dentro dos valores normais, por exemplo, com triglicerídeos de 150, o HDL de 40, a glicemia em jejum de 95 ou 99, mas com a insulina alta (só que não foi dosada)…

E você vai estar com uma condição metabólica se desenvolvendo ali.

Só que está tudo normal, sim: você está normal para os padrões da nossa sociedade doente.

Mas você não está com perspectivas de um futuro metabolicamente tão saudável assim.

Até porque a gente sabe que o estilo de vida que a maior parte das pessoas leva tende só a agravar essas situações com o passar dos anos. 

E é interessante isso que o João falou também, de buscar corrigir o valor do exame, buscar corrigir o valor do exame e ignorar que o exame, na verdade, ele deve ser pedido com uma finalidade, também. 

É claro, a glicemia e as frações de colesterol são exames comuns.

Mas, se você pedir para qualquer pessoa trezentos exames diferentes, o tempo todo, alguma coisa — estatisticamente falando, probabilisticamente falando — vai dar um pouco fora.

E se você sair medicando qualquer coisa que der fora, isso vira basicamente atirar dardos para todas as direções e depois desenhar os alvos ao redor. 

Então, é importante ter uma intenção maior por parte do profissional de saúde, e também o paciente ter essa ciência do que que tá sendo pedido, o porquê, o que é esperado ver.

Basicamente, ser uma coisa mais deliberada, estudada, do que simplesmente “pedir tudo o que o plano cobre”, depois olhar os números e o que tiver fora a gente medica de um jeito ou de outro.

E, infelizmente, a gente sabe que essa acaba sendo uma conduta muito comum por aí, especialmente quando o nosso sistema de saúde atual não permite consultas longas, não permite um acompanhamento, muitas vezes, ao longo do tempo dos mesmos exames, do mesmo paciente.

Ele não tenta, talvez, muitas alterações de estilos de vida e acaba preferindo, por ele mesmo ou por indicação, ir para as drogas diretamente. 

Então, é bem complicado. E começar a esclarecer o que que está naquele papel, naquele laudo, é um primeiro passo.

Dr. João Vitor: Perfeito, Guilherme. 

Isso é importante dizer, porque é um problema que a gente tem no SUS e no sistema de convênios, que as consultas são muito curtas, então muitas vezes o médico ele não tem tempo ali para sentar com o paciente e explicar para ele o que que uma mudança completa no estilo de vida, em termos de alimentação, movimento, sono, manejo do estresse, porque a gente que o que vai curar todas as doenças é isso. 

Então, na falta de tempo, optou-se por tratar exames, e quando você trata exame, você faz aquilo que a gente falou, você dá um remedinho ali para o exame baixar, para a glicose baixar, para o colesterol ficar normal, mas você sabe que isso não tá indo na raiz do problema. 

Tanto que se a pessoa ficar um dia sem o remédio, já volta tudo de novo. 

E o fato do exame ficar artificialmente dentro dos valores de referência, ficar controlado artificialmente, não significa que a doença não está avançando. 

Então, esse é um dos grandes problemas que a gente vê, porque o exame também ele é uma foto… você tem um pré-diabetes ou um diabetes e faz uma glicemia em jejum, beleza, você ficou em jejum ali e depois de doze horas de jejum a sua glicose estava normal, estava controlada, com a ajuda de uma metformina, por exemplo. 

Agora, esse exame não pega como que ficou a sua glicemia logo após uma refeição. 

Às vezes você faz uma refeição e ela sobe para 250, 300, isso uma curva glicêmica pegaria, mas é um exame que não é tão solicitado também. 

Então, a gente tem que ver que o exame é sempre o retrato daquele momento. 

É uma coisa que a gente tem que levar muito em conta. 

Agora, uma coisa que eu acho interessante também e que não é muito difícil, você não precisa ter um diploma de medicina para entender, eu acho que todos os espectadores do Senhor Tanquinho já têm esse conhecimento básico sobre saúde, porque estuda, porque vai atrás, porque escuta os podcasts, segue vocês no Instagram, é um conhecimento básico sobre fisiologia. 

Eu acho que todo mundo deveria ter um conhecimento básico sobre fisiologia — e você não precisa ter um diploma de medicina para entender o básico sobre o seu corpo.“

Por que eu tô falando isso? Porque muitas vezes, com esse conhecimento básico que você tem sobre glicose, insulina, um pouquinho sobre hormônios, você já consegue entender o que que tá de errado ali no seu exame de sangue, ou se é que há alguma coisa de errado. 

Então, por exemplo, eu já vou dar um spoiler aqui, Guilherme, dos exames de sangue que você me mandou. 

Exame De Glicemia E De Insulina Em Jejum

Teve um exame de sangue que você fez, foi o de 2020, desse ano, que a glicemia em jejum deu 98, teoricamente o limite é 99, então, teoricamente você está ali batendo na porta. 

Mas, eu sei que você é um cara da low-carb, da cetogênica, e que uma glicemia em jejum ela não necessariamente significa que você está com uma resistência insulínica. 

A insulina sua vai estar baixa, com certeza, você no de 2020 não tem insulina, mas no de 2019 tem, e ela estava, eu não anotei aqui, mas estava muito baixa, 3.9, o índice HOMA estava abaixo de 1, estava 0.8, se eu não me engano. 

Então, é aquilo, é um retrato, muitas vezes a sua glicemia em jejum está um pouco mais alta ou por causa do cortisol, que dentro do seu ritmo circadiano o cortisol fica mais alto de manhã, e é quando a gente colhe o exame de sangue, então a glicemia pode aumentar um pouquinho. 

Seja porque, às vezes, pela própria cetose você está induzindo uma gliconeogênese, então a sua glicemia em jejum vai aumentar, e não necessariamente isso é um problema. 

Provavelmente você está muito mais saudável do que uma pessoa que tem a glicemia em jejum de 85, mas que tem uma insulina de 15, por exemplo. 

Então, a partir do momento que você começa a ter essa ideia da fisiologia básica, dos mecanismos básicos, o valor de referência ali no exame, ele deixa de fazer tanto sentido, porque você começa a juntar as peças do quebra-cabeça. 

Então, isso que eu falei é uma coisa que não é difícil, todo mundo começa a aprender, entender que se você come pouco carboidrato a sua insulina vai ficar mais baixa, então não é um problema se a sua glicose estiver um pouco mais alta, ainda mais se você fez o exame de manhã, quando o cortisol tende a aumentar um pouco a glicose. 

Eu já peguei alguns casos de pacientes fazendo a cetose, com a insulina baixa, e a glicemia em jejum de 115. 

É claro que essa glicemia ao longo do dia ficava mais baixa, mas de manhã ela tava num valor que é quase diabético, e o paciente não tinha nada, estava super saudável na verdade. 

Então, eu acho que vale a pena, você que gosta de estudar sobre saúde, você entender esses mecanismos, esses detalhes por trás da sua fisiologia.

Você não precisa entender a fundo… mas, uma vez que você sabe o básico, o exame de sangue, os exames que vocês fazem, eles ganham uma outra cor, você consegue ver o que está além dos valores de referência. 

O Mito Do Gordinho Saudável

Roney: Perfeito, João, isso também me lembra uma frase que o Dr. José Neto falou quando ele veio aqui, que a gente tem que analisar o paciente como um todo. 

Então, por exemplo, se algum valor tá um pouquinho alterado, acima ou abaixo, do valor de referência, mas você tem um paciente que é magro, atlético e o restante dos exames estão bons…

Então provavelmente foi, como o Gui falou, um erro daquela foto, daquele exame, uma medida fora, o momento em que foi feito o exame, que afinal é só uma foto, a gente não consegue, não faz um acompanhamento todos os dias, 24h por dia, que a gente sabe que tem variações de todos esses marcadores nessa base diária, dentro de um mesmo dia eles podem variar, alguns desses marcadores. 

E isso também lembra o famoso “gordinho saudável”, que às vezes é uma pessoa bem acima do peso, claramente tem resistência à insulina, vai acabar desenvolvendo uma resistência pesada, já tem obesidade, mas, a pessoa fala “poxa vida, meus exames estão bons, estão dentro dos marcadores”. 

Aí a gente já pensa: até quando será que os exames vão ocultar a forma física da pessoa? Porque ela, aparentemente, já está bem errada. 

Dr. João Vitor: Perfeito, Roney, não existe gordinho saudável, então vamos aproveitar para deixar isso claro. 

Existem pessoas que estão com sobrepeso, com obesidade, que ainda não manifestaram tudo isso no exame.

Agora, uma pessoa que está com sobrepeso, uma pessoa que está com um acúmulo de gordura no corpo, ela tende a estar mais inflamada, porque a gordura, a obesidade, é uma doença inflamatória. 

Então, ainda que isso não apareça nos exames, e como eu falei no começo, muitas vezes, se você pedir uma insulina, se você pedir uma proteína reativa, isso já vai vir alterado para esse paciente — um paciente que se acha um gordinho saudável.

Porém, como este é um exame que não é pedido de praxe por todos os médicos, e que agora que tá começando a aparecer nos check ups, tá ficando mais comum de ser solicitado, então a pessoa ela vai ficar achando que tá tranquila, vai continuar tendo a dieta ruim, vai continuar com o seu sedentarismo, e achando que tá tudo bem. 

E daí quando vê, a pessoa desenvolve um diabetes de uma vez, uma dislipidemia, ou até um evento cardiovascular, que é comum a gente ver: um jovem de quarenta e poucos anos infarta do nada, e todo mundo fala “gente, mas os exames dele estavam bons, ele fez o eletro, o eletro não tinha dado nada”. 

O eletro não vai mostrar o risco que você tem de enfartar, né. 

Então a gente tem que entender também a função de cada exame. 

Muitas vezes o paciente chega lá para o médico e fala “Dr., eu quero fazer um eletro do coração, para ver como está o meu coração, porque eu tenho medo de enfartar”. E às vezes o médico passa para ele o eletro e não explica que o eletro não vai mostrar se você está com algum grau de obstrução coronariana, que é um fator de risco para o infarto. 

Então, a gente tem que entender isso, que nesse ponto é muito preto no branco. 

Se você é acima do peso, se você tem uma obesidade, se você come mal, se você bebe cerveja com frequência, não tem como você estar saudável, ainda que os seus exames estejam dentro da referência. 

Então, se alguém está escutando isso, ou se alguém conhece alguém que pensa assim, mande esse podcast para essa pessoa porque quanto antes ela mudar essa mentalidade, melhor vai ser para a saúde dela. 

Comecei A Low-Carb E Meu Colesterol Subiu. E Agora?

Roney: Com certeza, João, com certeza. Muito bem colocado. 

E, como a gente falou, o exame pode ser que mude de um para o outro, ainda mais para pessoas que estão, assim, digamos, na beira do exame “dar ruim”.

Isso acontece também com quem começa a low-carb ou cetogênica, muitas vezes a pessoa começou low-carb faz três meses…

E aí, no próximo exame que faz, o colesterol dá mais alto do que estava antes. 

E aí a pessoa já fica super preocupada, então, o que que a gente poderia falar para acalmar essas pessoas? Ou então é mesmo para pôr pânico nelas?

Dr. João Vitor: Perfeito. É muito interessante isso porque a gente tem que entender o que que tá fazendo o seu exame alterar.

Então, por exemplo, se você começou a fazer uma dieta low-carb, uma cetogênica que tem uma porcentagem maior de gorduras, principalmente gordura de origem animal, é óbvio que os seus níveis plasmáticos de colesterol vão subir. 

Agora, uma coisa é o colesterol subir porque você está consumindo mais colesterol, propriamente dito. 

Outra coisa é o seu colesterol ficar alto porque você está consumindo muito carboidrato, muito óleo vegetal

A gente vê isso quando os triglicerídeos, por exemplo, estão muito altos. 

E acaba afetando o colesterol também: então, é uma coisa que o pessoal não sabe, mas o consumo excessivo de carboidratos ele pode aumentar o colesterol também, apesar de todo mundo ficar com medo da gordura. 

Alterações Na Ferritina

Outro exemplo importante, que é muito comum a gente ver, é a questão da ferritina.

A pessoa que faz uma dieta com mais proteína animal, ou uma carnívora, ela vai estar ingerindo mais ferro heme, que é um ferro altamente biodisponível, altamente absorvido pelo seu corpo.

É diferente do ferro do espinafre, ou do feijão, que o seu corpo não vai conseguir absorver muito bem. 

Como você está absorvendo mais ferro, porque você está comendo mais carne, os seus estoques de ferro no corpo vão aumentar, então a ferritina tende a ficar mais alta. 

Não “mais alta” — mas ela tende a subir com relação ao seu basal. 

Porém, a ferritina também é um indicativo de inflamação, então, se a pessoa tem uma dieta muito ruim, por exemplo, se ela tem uma dieta riquíssima em carboidrato refinado, bebe suco, bebe café com açúcar, essa pessoa vai estar sobrecarregando um pouco o fígado dela, o metabolismo hepático, e esse metabolismo hepático sobrecarregado pode aumentar os níveis no sangue de ferritina. 

Então, a ferritina alta pode ser inofensiva, se a causa dela for um consumo maior de ferro, ou ela pode ser um indicativo de inflamação. 

E é o que a gente sempre fala: cada um é cada um, e a gente tem que entender o que tá causando essa alteração no exame. 

Alteração Na Creatinina

Uma outra alteração também que é muito comum, é a creatinina elevada em pacientes que têm um corpo atlético.

Então, o exame do Gui aqui, a creatinina dele está dentro da referência, mas está um pouquinho mais para cima. 

Geralmente a creatinina ela vem alta ou porque você estava desidratado na hora do exame, então muita gente chega assustada para mim e fala, “Dr., a minha ureia, a minha creatinina estão acima, estão altas, eu estou com problema nos rins?”. 

E daí você pede para repetir o exame bebendo muita água antes, bebendo um litro de água antes, e daí vem tudo normal. 

Geralmente a gente faz o exame de manhã, às vezes acordou e nem bebeu água direito, e aí vai fazer o exame e isso pode afetar nos resultados também. 

Agora, se a pessoa for uma pessoa que tem um porte atlético, se ela tem uma massa muscular legal, ela tende a ter uma creatinina muitas vezes acima da média, ou porque ela faz muito exercício físico, ou porque ela vai ter um estoque de creatina muscular maior, ou porque ela vai estar lesionando mais músculo, então isso aumenta o nível sérico de creatinina, e não necessariamente é um problema, não significa que ela tá com a função renal afetada. 

Então, sempre que o exame vier alterado, você tem que se perguntar “o que no meu corpo está fazendo com que esse exame se altere”.

E na maioria das vezes a gente descobre que não é nada. 

Homocisteína — Um Exame Importante, Mas Pouco Solicitado

Por falar nisso, eu lembrei de um exame interessante também que eu acho que todo mundo deveria solicitar, que geralmente não é solicitado, que é a homocisteína

A homocisteína, ela mostra, grosso modo, a capacidade que o seu corpo está tendo de combater radicais livres, principalmente o metil: a capacidade de metilar radicais livres. 

E existe uma mutação que é comum na população — cerca de 20% das pessoas têm esse polimorfismo — que é justamente um polimorfismo que altera a sua capacidade de metilação. 

Então, o polimorfismo do gene da metilenotetrahidrofolato redutase — MTHFR

Geralmente a pessoa que tem a homocisteína mais alta, ela tem por causa de dois motivos: ou porque ela está produzindo muito radical livre, por causa de um estilo de vida que não tá muito legal, ou porque ela tá numa capacidade baixa de metilação, ela não tá conseguindo lidar direito com os radicais livres. 

Nesse caso, que é o meu caso, que tenho essa homocisteína um pouquinho mais alta por causa desse polimorfismo genético, como eu falei, ele é comum na população, vinte e poucos porcento das pessoas têm pelo menos um alelo desse polimorfismo, muitas vezes você resolve isso dando metil para o seu corpo, metilfolato, metil cobalamina, que são as vitaminas do complexo B na forma metil, que vão ajudar a baixar a sua homocisteína. 

Agora, se eu tenho um estilo de vida muito ruim, que eu tô constantemente inflamado, eu tô comendo mal, dormindo mal, estressado, não há metilfolato que vá fazer a minha homocisteína abaixar. 

E por que eu quero a homocisteína baixa? 

Justamente porque homocisteína baixa significa que o meu corpo está lidando melhor com radicais livres, e como a gente sabe radicais livres no longo prazo são o que causa um envelhecimento, o que causam uma menor eficiência celular e pode até, no longo prazo, causar câncer

Esse é um exame super importante, que eu faço esse adendo aqui, eu deveria até ter falado sobre ele no começo, mas é isso: você tem que entender, na sua realidade, o que tá fazendo aquele exame alterar ou não. 

Muitas vezes, não é um problema o que tá fazendo ele ficar alterado.

Vitamina B12 Elevada É Perigoso?

Guilherme: Perfeito, e falando em grupos metil, metil cobalamina, eu queria falar um pouquinho da vitamina B12.

A minha vitamina B12 deu acima do valor de referência.

E a minha mãe que abriu o laudo, quando ele chegou em casa. E ela falou “meu filho, o que está acontecendo com você, é perigoso isso?”

Dr. João Vitor: Vamos lá. A Hipervitaminose é uma coisa que existe, então vitamina é uma coisa que a gente não pode ficar suplementando desenfreadamente porque o excesso de vitamina pode causar alguns sintomas, algumas doenças. 

A Hipervitaminose mais comum que a gente costuma ver, é a Hipervitaminose D, de vitamina D, justamente por causa da pessoa suplementar doses altas de vitamina D durante muito tempo, sem um controle adequado. 

Agora, a vitamina B12 alta, no seu caso, eu consigo explicar muito bem: pois ela se deve justamente a um consumo elevado de produtos de origem animal, provavelmente dentro de um contexto carnívoro, de um contexto de você tava comendo bastante fígado, bastante ovo, bastante vísceras, então, isso naturalmente faz a vitamina B12 subir. 

Eu tô olhando a sua aqui, ela tá 1.116. 

A partir de 1.500 de vitamina B12, algumas pessoas já começam a ter sintomas de vitamina B12 muito alta, como o caso de alergia nas mãos, algumas feridinhas, uns machucadinhos que dão nas mãos. 

Porém, eu já vi pessoas com vitamina B12 acima de 2.000, fazendo carnívora, que não tinha nada disso. 

Então, nesse caso, a gente vai se guiar pelos sintomas. 

E ainda mais sendo uma vitamina B12 de fonte natural, de fonte alimentar, eu não vejo problema nenhum você estar com essa vitamina B12 alterada. 

Agora, vamos supor que você está usando um suplemento de vitamina B12, um suplemento de complexo B, e daí a sua vitamina B12 veio muito alta. 

Daí, como você tá usando um suplemento, uma coisa artificial, daí talvez a gente possa se preocupar. 

Mas, como eu falei, isso costuma ser mais grave na vitamina D, mas mesmo assim é muito difícil você ter uma Hipervitaminose D, você tem que estar usando doses de dez mil, vinte mil todos os dias durante três meses para você ter algum sintoma de Hipervitaminose D.

Aí já é uma coisa um pouco mais grave, porque mexe no nosso metabolismo do cálcio, pode aumentar a calcificação de artéria, pode causar distúrbios da condução no coração, por causa de desequilíbrio do cálcio iônico. 

Então, se você está suplementando e está vindo alto, é bom tomar cuidado. 

Agora, se é natural, se é porque você está tomando sol, se é porque você está comendo fígado, não tem problema. 

Tem um estudo que mostra os pescadores lá no Nordeste, que ficam no barco sem camisa o dia todo, eles têm a vitamina D de 150, e não tem nenhum sintoma de Hipervitaminose. 

Só um adendo, a vitamina D é um exame que tem um valor de referência muito defasado também, geralmente vem ali entre 20 e 30, mas esses são números muito baixos para a vitamina D. 

Vinte ou trinta é para você ter os benefícios mínimos da vitamina D para a saúde óssea.

Agora, quando a gente tá falando dos outros milhares de benefícios da vitamina D, seja para imunidade, seja para regulação gênica, aí a gente precisa ter uma vitamina D acima de 50, no mínimo, entre 50 e 100 eu acho que é o ideal.

Guilherme: Perfeito. Em 2019 também dosei a vitamina D.

E, se não me engano, 2018 eu estava suplementando vitamina D.

Aí, quando acabou o suplemento, eu percebi que estava tendo um estilo de vida mais de exposição ao sol, eu tava tendo mais atividades ao ar livre e eu parei de suplementar a vitamina D. E deu 41 no exame — em que a referência era superior a 20. 

Então, realmente, é um valor que pareceria “está bom o bastante”. 

Mas, para mim, para a qualidade de vida, eu percebo a diferença —  inclusive na saúde mental — de este número estar alto de maneira natural (pela exposição a florestas, parques e atividades ao ar livre, como caminhar sem camisa), e de suplementar.

Eu prefiro sempre que possível não suplementar, nem a vitamina B12, que nunca suplementei, estava elevada justamente, como você acertou, por consumo de produtos de origem animal, órgãos e vísceras e afins, e a vitamina D também sem suplementação. Os sintomas e a experiência, como você falou, são distintos. 

O número no exame pode vir igual, mas a maneira como você se sente é diferente. 

Dr. João Vitor: Exatamente, e é interessante esse contexto que você falou, você tava em Portugal há um tempo atrás, e é uma latitude um pouco mais alta, então geralmente, quando você está em um local onde há exposição ao sol, a intensidade dos raios solares não é tão alta, principalmente em regiões subtropicais, daí é o caso de suplementar na maioria das vezes. 

Mas você conseguindo, de forma natural, seja através da dieta, seja através da exposição ao sol, subir as suas vitaminas, sem sombra de dúvidas é o ideal. 

A Poderosa Relação Entre HDL E Triglicérides

Tem um outro fator, uma outra dica que a gente pode fazer uma análise nos nossos exames de sangue, que é uma dica muito legal, muito simples, que é a relação HDL e triglicérides

Ela mostra para a gente se o colesterol está alto de forma perigosa ou não. 

Como assim? Como a gente já falou, o triglicérides sobe porque você come muito carboidrato, então, se você tá com o colesterol total muito alto — vamos supor, acima de 300 — mas o seu triglicérides está baixo, e a proporção triglicérides HDL está boa, a gente não se preocupa com o risco desse colesterol. 

Então, Guilherme, no seu exame aqui, o seu colesterol deu 218, teoricamente você teria que usar uma estatina, se esse exame viesse sempre mais alto — e vai vir, por causa da dieta. 

Só que o seu triglicérides está 60, e o seu HDL deu 73, ou seja, se você dividir o triglicérides pelo HDL, vai dar menos do que 1, vai dar 0.8, 0.9, e a gente considera que essa proporção pode ser até 2. 

Então, o seu HDL estando 73, o seu triglicérides poderia estar até 140.

Mas é claro que, quanto menor essa proporção, menor o risco cardiovascular você tem. 

Então, para quem está nos ouvindo, que começou a fazer uma low-carb, uma carnívora, uma cetogênica, e daí o colesterol foi para 250, 300, 400, e você agora está morrendo de medo…

Pega essas frações, o triglicérides e o HDL, e divide um pelo outro. Se o triglicérides dividido pelo HDL der um número menor do que 2, a gente não se preocupa com o seu colesterol, ainda que ele esteja acima do valor de referência. E é isso que aconteceu com o exame do Gui aqui.

Mudanças Nos Exames Ano A Ano… Devo Me Preocupar?

Guilherme: Perfeito, e acho que isso amarra bem com o tema que o Roney mencionou de passagem: que as pessoas, às vezes, têm medo das variações ano a ano. 

Então, por exemplo, se você olhar o meu exame de 2019, o colesterol total estava 200, e em 2020, 220. 

A glicemia em jejum, em 2019, tava 88, e em 2020, 98. 

P triglicérides estava 55, e foi para 60.

E muitas pessoas seriam rápidas em dizer, “este aumentou, este aumentou, este aumentou… não é perigoso?”. 

É importante a gente destacar também o que realmente é um aumento significativo e o que que às vezes é ruído ou algo para não se preocupar. 

Dr. João Vitor: Perfeito. Guilherme, se você tivesse colhido esse sangue, um frasco de cada braço, tirasse dois tubinhos, e se cada tubinho fosse para um laboratório diferente, a gente ia ter uma margem de erro parecida com essa. 

Então, em um o triglicérides ia dar 60, e em outro dia 55. 

O colesterol em um poderia dar 200, em outro poderia dar 190, porque cada laboratório usa uma metodologia diferente, e é justamente por isso que cada laboratório tem valores de referência levemente alterados para cada exame. 

Então, por isso que eu acho muito interessante você fazer o exame de sangue com frequência, e se possível, você manter uma tabela, uma planilha no computador com os valores que você tem com o histórico, porque daí você consegue ver uma tendência, ou de alta, ou de baixa, ou de constância. 

Eu comecei a fazer exame de sangue com mais frequência há uns três anos atrás, fazendo pelo menos três por ano, e eu comecei a notar que nos primeiros — e foi justamente quando eu comecei a ter um estilo de vida mais saudável —, o meu global de leucócitos, que são as células brancas, as células de defesa do sangue, estavam sempre baixas, abaixo do valor de referência.

E a princípio eu fiquei muito preocupado com isso, porque geralmente o leucócito baixo é por alguma doença que tá deixando a minha imunidade mais afetada. 

E eu peguei exames meus de cinco anos atrás, de 2014, e os leucócitos estavam altos, e agora os exames, depois que eu comecei a ficar mais saudável, a fazer jejum e tudo, o leucócito começou a ficar mais baixo. 

Ou seja, será que a minha imunidade caiu? E, na prática, o que que eu vejo? 

Quando eu tinha o leucócito alto, eu vivia doente, eu vivia tomando remédio, eu vivia tomando antibiótico, duas vezes por ano eu tinha placa na garganta, e tinha que tomar antibiótico. 

Depois que eu comecei a ter um estilo de vida mais saudável, uma alimentação mais saudável, uma alimentação mais saudável, fazer jejum, eu nunca mais precisei tomar antibiótico — e nem resfriado direito eu pego. 

O que isso significa? Que os meus leucócitos ficaram mais baixos, ou seja, o meu sistema imune ficou com menos soldados ali para me defender. Mas esses soldados estão muito mais eficazes, estão muito mais eficientes do que os seis mil que eu tinha antes. 

Então, hoje, com 2.900, 3.000 de leucócitos eu consigo me manter muito mais saudável, muito mais imune do que eu me mantinha quando eu tinha 6.000, 7.000 de leucócitos. 

Então é igual eu falei: a gente tem que entender o que que tá acontecendo no nosso corpo, na nossa fisiologia, para ver como isso se reflete nos exames.

E sempre que possível, eu acho legal você fazer o exame pelo menos umas duas vezes por ano.

O SUS não acha legal, os convênios não acham legal isso… 

Mas você conseguindo fazer, conversando com o seu médico, conseguindo que o convênio autorize, ou que o próprio SUS faça, é bom.

Porque a gente começa a ter uma ideia de tendência, uma ideia de resultados maiores. 

Então, se você acha que o seu exame X sempre está um pouquinho fora da referência, mas que sempre foi assim, então é o seu normal, é o seu basal. 

Então, a gente fica mais tranquilo. 

Agora, uma coisa também que é interessante a gente recordar, são ruídos, interferências que pode dar no seu exame de sangue. 

Então, por exemplo, se você vai fazer o seu exame de sangue com um jejum muito prolongado, isso pode afetar alguns marcadores. 

Por exemplo, Gui, no seu de 2020, o TSH, da tireoide, o hormônio estimulante da tireoide, deu 3.26, que eu considero um valor um pouquinho mais alto, sabe, apesar de estar dentro da referência. Enquanto que, em 2019, estava 2.4. Ou seja, 2.4 tá legal, está na metade inferior do valor de referência. 

O TSH a gente espera que ele fique mais para baixo, e 3.26 já está na metade superior dos percentis. 

Mas o que pode significar isso? Significa que você está piorando na sua tireoide? 

Muitas vezes, não, muitas vezes você fez um jejum um pouco maior, você estava de jejum um pouco maior no dia do exame e isso fez com que esse hormônio se alterasse — porque ele altera, quanto mais tempo em jejum, mais a tireoide vai tentar ser estimulada. 

O cortisol também é um hormônio que fica mais alto pela manhã, então geralmente a gente colhe ele de manhã, para ver o pico de cortisol, mas o cortisol aumenta também em situação de estresse, situação de exercício físico. 

Então, se você fez academia antes de tirar o sangue, isso já é um problema; se você foi dirigindo até o laboratório e no trânsito você teve algum estresse, tomou uma fechada, assustou, isso vai aumentar o cortisol. 

O cortisol, então, vai vir um pouco aumentado no exame. 

O cortisol aumentado no seu sangue, ele vai fazer a glicemia aumentar, então pode ser que a glicemia em jejum altere porque o cortisol subiu também, além da conta. 

Então, a gente tem que sempre levar em conta essas possíveis variações, e por isso que eu acho legal também você fazer sempre os exames pelo menos umas duas vezes por ano, para você ter essa tendência, porque daí se um resultado sair muito da linha, você vai achar que foi algum artefato, que não foi de fato uma mudança fisiológica. 

A proteína C reativa, que eu falei aqui no começo do podcast, é um marcador de inflamação, mas inflamação pode ser qualquer coisa, então se você trocou a ficha na academia, você tá com o músculo dolorido porque você começou a treinar músculos que não estavam tão condicionados, isso aumenta a inflamação do seu corpo, porque essa dor muscular é inflamação, a hipertrofia vem da inflamação, e se no dia seguinte da academia você for fazer um exame, a sua proteína C reativa vai estar altíssima, não significa que você está com uma inflamação crônica ou que você está com uma infecção ativa. 

É porque você fez o exercício físico. 

Então, a gente tem que levar em conta que algumas coisas dos nossos hábitos, do nosso cotidiano podem alterar pontualmente os resultados dos exames. 

Um Erro No Exame Pode Te Levar A Tomar Remédios Sem Necessidade

Guilherme: Perfeito, eu acho que esse exemplo da inflamação decorrente dos exercícios foi para lembrar, justamente, que as coisas não são preto no branco, a inflamação não é ruim sempre, é um dos supostos mecanismos da hipertrofia, inclusive. 

Tanto que o uso de antiinflamatórios não esteroidais pode diminuir os ganhos de massa muscular em alguns estudos.

E, como você falou também, o cortisol, a pessoa tende a achar que o cortisol é o hormônio do estresse — mas o cortisol que se eleva naturalmente de manhã faz a gente levantar da cama, também.

E, uma história engraçada, falando de ruídos em exames, foi quando eu fiz um exame em outro laboratório, em 2017.

Na época, o Roney e eu morávamos em Sorocaba, e eu fiz o exame num laboratório, e eu não sei o que aconteceu, mas os meus triglicérides deram 400. 

E eu olhei aquele exame, quando chegou o laudo e falei “cara, obviamente isso aqui tá errado”. 

Eu já tinha um estilo de vida saudável já fazia mais de quatro anos, eu sabia que aquele número não batia com a realidade. 

Os meus triglicerídeos estavam sempre abaixo de 80 há muitos anos, há uns três anos.

Aí eu olhei e falei “tem algum erro nisso, eu vou falar com o médico para repetir o exame”. 

E eu fui ao médico — era um médico que eu não conhecia, eu fui indicado pelo convênio. Na cidade eu não tinha nenhuma indicação, também, eu só fui lá para pedir os exames. 

Eu levei os exames para ele, e a minha intenção era simplesmente dizer “esse número está estranho”.

Mas ele falou, “é, tá estranho, vamos entrar com uma medicação”. 

Eu fiquei chocado, pensando “eu tenho 26 anos, sou claramente saudável, com um estilo de vida ativo, estou em forma, e todos os outros números estão redondinhos”…

Fiquei muito surpreso de que a primeira orientação foi justamente o que a gente falou mais cedo. A primeira orientação foi, “vamos entrar com uma medicação para baixar os triglicérides”. 

E perguntei “será que por acaso seria possível a gente medir novamente? 

Ele, “ah, sim, mas você teria que estar em jejum nesse momento”. 

E eu “puxa vida, que coincidência, eu tô em jejum”. 

(Mas não era uma coincidência, porque faço jejum intermitente diariamente.)

Aí eu medi novamente e os triglicérides vieram cinquenta, cinquenta e poucos. Ou seja, consistente com o esperado.

Mas, desde aquele dia — e isso já faz mais de três anos — eu fiquei com isso na cabeça.

De como que uma pessoa que talvez não tivesse a segurança de saber que “tem alguma coisa errada aqui, eu não sei nem dizer o que é, mas eu sei que vale a pena medir de novo”…

Claro — se desse 400 de novo, eu ia começar a ficar preocupado e ia querer investigar. Mas não foi esse o caso.

Mas imagino uma pessoa que não tivesse esse conhecimento, a ponto de no mínimo poder falar, “eu quero fazer este exame de novo”.

É importante ela ter essa independência, e poder ter essa conversa.

Caso contrário, é apenas um exame que o médico olhou, e saiu prescrevendo um remédio para o triglicérides para um cara atlético de 26 anos. 

Dr. João Vitor: Perfeito, Gui. 

E, eu me pergunto, quantas pessoas não estão tomando remédio à toa por causa de um resultado de exame que uma vez veio alterado.

E, por causa disso, a pessoa começou a tomar o remédio e usa por décadas esse medicamento. 

O colesterol é um exemplo disso porque todo mundo tem medo do colesterol, todo mundo tem medo de infarto. 

Ninguém tem medo de diabetes, ninguém tem medo de doenças crônicas, que vão te matando aos poucos, mas o infarto que chega de uma vez, todo mundo assusta; o AVC, todo mundo tem medo. 

Então, muitas vezes, a pessoa teve o exame que veio alterado uma vez, o colesterol veio um pouquinho mais alto uma vez, ou por erro do laboratório, que infelizmente no SUS isso é muito comum, nem todos os laboratórios do SUS tem um padrão de qualidade aceitável. 

Às vezes o exame vem e a máquina está descalibrada, vai vir errado mesmo.

E muitas vezes, algumas coisas pontuais na sua dieta pode ter feito aquele exame alterar, então, eu nunca vou esquecer uma questão de prova na faculdade, que eu fiquei muito revoltado na hora — mas deu certo, porque eu nunca mais esqueci disso, que é o fato de o carboidrato aumentar os triglicérides pontualmente. 

Nessa questão de prova, eu devia estar ali na metade do curso, o professor, a questão era o seguinte: “fulano, vinte e poucos anos, triglicérides dele estava 400, por exemplo, veio muito alto. Explique por que”. 

Só isso, a questão era essa, eu não conhecia o paciente, não tinha nenhuma informação sobre ele, mas era, tipo, o triglicérides dele tá alto, explique o que fez o triglicérides dele subir. 

A resposta certa para a questão era você olhar a data do exame e ver que era segunda-feira logo após a Páscoa, então, ele tinha comido muito chocolate, foi fazer o exame de sangue segunda-feira e o exame de sangue veio com triglicérides altos. 

O que o professor quis gravar na gente e deu certo? 

Eu errei a questão, mas, aprendi isso, que carboidrato aumenta muito os triglicérides; carboidrato aumenta muito, muito. 

Então, às vezes, a pessoa comeu o carboidrato além da conta, numa festa, num churrasco, bebeu cerveja, comeu bolo, e daí foi fazer o exame na segunda-feira, e daí o exame veio alterado, com triglicérides um pouco mais alto, colesterol um pouco mais alto.

E às vezes por causa desse fato pontual, dessa alteração pontual, a pessoa está usando estatina para o resto da vida, ou está usando fibrato para o resto da vida, quando muitas vezes ela não precisaria. 

E acaba que ela só vai ter malefícios do uso desses medicamentos, não vai ter nenhum benefício para a saúde dela. 

Preste Atenção No Seu Exame De Testosterona

Roney: Sem dúvidas, João, sem dúvidas. 

E, a gente falou aqui sobre vários exames, vários tipos de erros que podem ter com relação a esses exames, vários tipos de parâmetros que podem não ser tão bons para todo mundo e, você acha que ficou faltando a gente falar mais especificamente sobre algum exame, ou algum erro que pode ter, ou alguma coisa que é importante a gente observar? 

Dr. João Vitor: Vamos lá, tem muitos detalhes que a gente pode observar num exame de sangue. 

Eu queria trazer aqui sobre os hormônios sexuais, principalmente, a testosterona

Quando a gente vai dosar a testosterona, por exemplo, a gente costuma pedir a testosterona total, mas geralmente a gente tem que pedir a testosterona livre também — e por quê? 

Porque pode acontecer, tanto em homens, quanto em mulheres, de a testosterona total estar alta, estar num valor legal… Porém a testosterona livre não estar alta o suficiente, porque a maioria dessa testosterona está ligada à proteínas plasmáticas, ou albumina ou a SHBG. 

Então, às vezes a pessoa tem sintomas de baixa testosterona, mas a testosterona total está boa.

Só que daí se você vai ver, ela está com o SHBG alto. Ou seja, a testosterona total está alta, mas ela está sequestrada, ela está em uma forma que não é biodisponível, que não é ativa. 

Então, esse eu acho que é um detalhe interessante para se dosar, porque muitas vezes a pessoa está com uma dificuldade para perder peso, está com uma dificuldade para ganhar massa muscular, tá com um certo grau de desânimo, cansaço, dormindo muito, e às vezes pode ser a testosterona baixa, ainda que a testosterona total esteja alta, a gente tem a testosterona livre, que é a biodisponível, que às vezes não está num valor tão legal. 

Enfim, tem muitos detalhezinhos, muitas coisinhas que a gente poderia falar, mas eu acho que o mais importante, assim, o mais essencial a gente conseguiu passar aqui. 

Saiba (Ainda) Mais Sobre Os Exames De Sangue

Roney: Até porque a gente tem um tempo bem limitado aqui, a gente já está chegando à marca de uma hora de podcast — e ficaria muito chato, muito cansativo, seria legal dividir em vários episódios, se a gente fosse falar o detalhe de cada um deles né, João.

Só que a gente sabe, também, que foi justamente pensando nisso que você criou o seu curso que é mais específico sobre exames, então se você puder falar um pouquinho mais sobre ele…

Porque, com certeza, quem escutou uma hora de conteúdo sobre exames vai querer se aprofundar mais, vai gostar de saber sobre esse seu curso. 

Dr. João Vitor: Muito bem, é um curso que eu desenvolvi para leigos, para pessoa que tá interessada em saber mais sobre saúde, que é justamente sobre um curso para entender o que que significam os principais exames laboratoriais, o que que significa esse exame X ou Y estar dentro ou fora do valor de referência, se você deve se preocupar ou não, e o que você pode fazer para você conseguir interpretar os seus próprios exames com uma independência maior do médico, com uma certeza maior, com uma tranquilidade maior. 

Então, esse é um curso que tem 16 aulas, e ele está em constante atualização, então, sempre que a comunidade lá pede para… “ah, Dr., fale sobre o exame tal”, daí eu gravo uma aula especificamente sobre aquele exame, que não estava no curso original. 

Mas a ideia é justamente essa, é empoderar cada um para que cada um, não que tenha que prescindir de um médico — porque a gente precisa de uma referência, de alguém para às vezes tirar uma dúvida — mas para que cada um fique mais independente, fique mais empoderado para conseguir interpretar, para conseguir entender melhor os seus próprios exames. 

E, por último, uma coisa que eu sou a favor, é que cada um consiga solicitar exame por conta própria, sem precisar de um pedido médico. 

Infelizmente, hoje, é difícil você fazer exame sem um pedido, mas nos Estados Unidos a gente vê algumas startups que mandam o kit de exame para a sua casa, você mesmo colhe, e daí pode ser exame que colhe na bochecha, pode ser exame de urina que o laboratório depois consegue tirar várias coisas daquela urina…

Porque realmente é chato né, você ficar na mão do médico, você precisar de uma autorização do médico para fazer exame. 

É claro que a gente sabe que isso é coisa do SUS, é coisa do convênio, que eles tentam economizar o máximo, então eles não vão deixar você ficar fazendo exame à vontade. 

Mas, eu, indo contra as recomendações aí do SUS e dos convênios, eu acho interessante você fazer exame de sangue pelo menos umas duas vezes por ano, para você conseguir acompanhar, ter todos esses parâmetros seus, para você ter uma ideia melhor do seu corpo. 

Eu, como biohacker, a gente já falou sobre isso no outro podcast, eu gosto de ter o controle de todos os dados, tudo que for possível medir na minha biologia, então eu acho legal. 

Mas, enfim, o curso dos exames laboratoriais é basicamente esse, eu vou passar o link para vocês e daí vocês deixam aqui nas notas do episódio. 

(Link para o curso Entendendo Seus Exames Laboratoriais.)

Roney: Com certeza, vamos deixar todos os links bonitinhos aqui para quem quiser saber mais sobre o curso. 

Também vamos deixar as suas mídias sociais, você pode falar agora quais são, João, e se quiser deixar uma mensagem final para o pessoal, algum conhecimento final, por favor fique à vontade, o microfone é seu. 

Dr. João Vitor: Vamos lá, eu estou no Instagram também, que é o @dr.joão.vitor.

E no YouTube, é só procurar Dr. João Vitor, Dr. João Vitor biohacker, que você me acha lá. 

E a mensagem que eu quero deixar para todo mundo no final é justamente essa, não entregue os seus exames de sangue na mão de um terceiro para ele te falar se está bom ou não. 

Analise, questione, não aceite como resposta uma passada de olho rápida que o médico vai dar, vai falar que tá tudo bem, que tá tudo dentro da referência. 

Seja chato, seja minucioso, e alguma coisa ali você não tá entendendo, pesquisa na Internet, vai atrás para você conseguir ter essa interpretação mais adequada possível dos seus exames, porque ninguém vai ter mais interesse em analisar os seus exames de sangue de uma forma minuciosa, correta, completa do que você mesmo.

Roney: Sem dúvida, João, sem dúvidas. A gente é quem mais gosta da gente. 

Muito obrigado pela presença novamente aqui, o nosso terceiro episódio juntos, você sempre muito disponível para gente, muito simpático, com um ótimo conhecimento, então, muito obrigado mesmo por ter vindo aqui compartilhar tudo isso com a gente. 

Dr. João Vitor: Pessoal, é sempre uma alegria muito grande participar dessa conversa, a gente sempre fica com a sensação de que não deu tempo de falar tudo, de que faltou podcast para gente explorar o assunto. 

Mas isso é bom: significa que a gente não esgotou o assunto, a gente deixa esse gostinho de quero mais para o espectador ir atrás e saber mais e a gente também deixa assunto para próximos episódios que a gente eventualmente venha conversar. 

Roney: Sem dúvidas, João, com certeza a gente tem assunto para mais vários episódios e, é isso aí, muito obrigado novamente. 

E, também, queria agradecer aos Tanquinhos e Tanquinhas pela audiência, por ter escutado o episódio até aqui, com certeza você colheu muito valor das palavras do Dr. João.

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E a gente se fala num próximo episódio. Um forte abraço.

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